Da divisão de Honra AFL à Ledman Liga Pro em apenas seis anos. Se está familiarizado com o jogo Football Manager certamente já tentou este desafio. O Vilafranquense foi mais longe e conseguiu fazê-lo na realidade.
Se nos vídeojogos parece difícil, a vida real é ainda mais e em Vila Franca o caminho foi feito aos poucos, com altos e baixos. O clube não viveu uma época fácil, com mexidas de jogadores e treinadores, mas alcançou aquilo que nunca tinha alcançado, a subida aos escalões profissionais do futebol português.
Dia 16 de junho de 2019 vai ficar para sempre na memória dos habitantes de Vila Franca de Xira e dos adeptos do Vilafranquense, tal como o nome de Filipe Moreira, treinador que inscreveu o nome na história do clube ribatejano e que falou ao zerozero sobre um dos dias mais memoráveis da carreira e ainda sobre o futuro próximo.
ZZ: Objetivo cumprido e com muito suor e emoção à mistura. Como foi viver aquela decisão nos penáltis? Quais as sensações?
Filipe Moreira: «Tem aqueles dois lados da moeda. Pode cair para um lado, pode cair para o outro. Foi até final. É muito bom quando nos toca a nós, mas do outro lado estava um adversário valioso, de qualidade, bem orientado, com jogadores que já conheço há muito tempo e a nossa felicidade é um contraste com a tristeza dos outros. É o futebol de competição. O jogo é isto, não pode haver dois vencedores. Pelo equilíbrio qualquer uma das equipas merecia atingir a subida de divisão, mas tocou-nos a nós», começou por dizer ao nosso jornal.
«Estamos muito felizes. Sentimos esse prazer de, pela primeira vez, termos levado o Vilafranquense aos campeonatos profissionais. Fizemos história. O dia 16 de junho ficará marcado para sempre nas pessoas de Vila Franca de Xira. O futebol tem estes momentos mágicos que fazem com que cada vez gostemos mais dele, principalmente quando ganhamos [risos]. Quando as pessoas estão alegres exteriorizam os sentimentos de forma diferente e isso é bonito. O que me deu mais prazer foi ver a felicidade dos meus jogadores. Eles são os heróis deste processo todo, são os grandes campeões, fizeram a diferença e merecem viver este momento. Vila Franca de Xira acordou. A noite parecia dia, com tanta alegria. É um momento especial na carreira de todos nós», apontou.
Em conversa com o zerozero antes dos play-off, Filipe Moreira apontava o «fator surpresa» como determinante no momento das decisões. Perante adversários fortíssimos, o treinador admite que esse fator foi parar a Vila Franca de Xira.
«Quando saiu o sorteio sabíamos que íamos defrontar o Vizela e o vencedor jogaria com o Leiria. Sabíamos que o nível de dificuldade estava altíssimo para nós. Estávamos a defrontar os dois primeiros classificados das suas séries, duas equipas que fizeram um grande campeonato, principalmente o Vizela, bem orientado pelo Rui Amorim. No ano passado ficou em primeiro, tal como este ano. Sabíamos que íamos defrontar, à partida, os principais candidatos. Eu disse aos meus jogadores: "Nós, para subirmos de divisão, vamos ganhar àqueles que dizem que são os melhores. Vamos provar que mereceremos ser melhores e subir de divisão". Nunca faltando ao respeito ao adversário, mas colocando uma pressão positiva para vencermos os jogos perante opositores difíceis e foi isso que aconteceu. Foram jogos de grande equilíbrio, por vezes nós por cima, por vezes os outros. As equipas estiveram sempre muito próximas em termos de qualidade e alguém tinha de ser mais feliz. Fomos nós».
ZZ: Faltam poucos dias para terminar uma época que já vai muito longa e que chega ao fim no Jamor. Vilafranquense ou Casa Pia, sobem as duas equipas mas só uma é campeã. O grande objetivo é fechar com ouro sobre azul ou acima de tudo ser um dia de festa e consagração de uma época histórica?
Filipe Moreira:«Vou ser muito prático. Nós já ganhámos. Nós e o Casa Pia. Essa é que é a verdade. As equipas subiram de divisão, são campeãs por direito próprio, vão para a próxima época disputar os campeonatos profissionais. São duas equipas que já ganharam. Vamos viver um momento diferente, de descompressão, parece que a pressão desapareceu, mas quando começar a aproximar-se a hora do jogo, as equipas podem estar desgastadas, como nós estamos, fragilizadas, mas as coisas modificam-se porque todos querem ganhar», adiantou.
«Não vai ser fácil, a equipa já ultrapassou quase todos os limites pelas incidências que os jogos têm e por isso, sinceramente, o melhor a fazer é entrar no Jamor e saborear um estádio mítico. São momentos diferentes e que não se esquecem. Dizer que vamos ganhar, que vamos lutar até ao fim das forças não estou por aí. Queremos dar o melhor, mas não sei até que ponto conseguimos dar o melhor nesta altura. A época já vai muito longa, estamos a falar de quase 12 meses», confessou.
Depois de fazer história, o treinador revelou ao zerozero que já tem acordo para ir com a equipa de Vila Franca de Xira para a Segunda Liga, mas lamenta a falta de tempo para preparar o início da época, que já não está assim tão longe.
«Vamos preparar a próxima época da forma possível. Dia 23 terminamos a época e há equipas que começam dia 30 de junho. Isto é uma brincadeira. O futebol em Portugal tem este tipo de critérios, de calendários. Não consigo compreender, tenho dificuldade em compreender este tipo de coisas, mas enfim, é o futebol português ao seu melhor nível. Estas equipas do Campeonato de Portugal sujeitam-se a este tipo de coisas», lamentou.
Sem querer adiantar grandes projetos para o futuro do Vilafranquense, Filipe Moreira deixou um desejo para uma possível conversa com o zerozero.
«Gostaria de novamente poder dizer que cumpri os objetivos que me solicitaram, que é fazer um campeonato tranquilo e não descer de divisão».