Jorge Jesus apresentou-se esta segunda-feira em conferência de imprensa enquanto treinador do Flamengo e manifestou o desejo de conquistar a hegemonia do futebol brasileiro, lembrando aquilo que conseguiu fazer em Portugal.
Introdução: «Já está a mudar alguma coisa aqui. Vejo aqui várias televisões portuguesas a representar Portugal e o interesse que isto está a despertar em Portugal. Aquilo que quero principalmente é apresentar o trabalho que tenho de fazer no Flamengo. O meu passado como treinador está escrito, está feito. Tem alguma importância porque os treinadores também vivem um pouco pelo seu currículo. Como todos sabem, sou o treinador que mais títulos ganhou em Portugal. O que tenho que demonstrar no Brasil, e concretamente no maior clube do Brasil, é o meu trabalho. É para isso que eu estou preparado».
Mourinho apresentou-se como Special One, como se apresenta Jesus? «O meu nome é Jorge Jesus e o meu testemunho vai ser o que apresentar no trabalho, para mim é o mais importante».
O que se pode esperar do trabalho de Jorge Jesus? «Vão esperar o que tenho feito sempre. Temos apresentado trabalho, revolucionado, do ponto de vista em que as minhas ideias são diferentes. Venho apresentar o conteúdo do meu trabalho, o que fiz nos últimos dez anos de carreira, em que treinei duas das três maiores equipas de Portugal, o Sporting e o Benfica. Cheguei a uma que não estava a ganhar e começou a ganhar tudo, conseguiu a hegemonia no futebol português. É exatamente o que vou fazer no Flamengo».
Planos para o início do ciclo? «Temos 20 dias para apresentar trabalho. Vamos apresentar uma proposta aos jogadores, as nossas ideias, os nossos conceitos, a nossa metodologia de treino. Para mim não é novidade nenhuma. Eu já estou farto de trabalhar. Houve um canal brasileiro que fez uma estatística que eu nem sabia, disse que eu treinei 156 jogadores na minha carreira. Portanto já estou habituado a trabalhar com jogadores brasileiros, que são ótimos profissionais. Uma das razões para estar aqui é isso, eles têm muito talento. Eu quero partilhar com eles a qualidade com eles e o nosso trabalho, foi por isso que a direção do Flamengo me convidou, para melhorar não só os resultados mas também a qualidade de jogo do Flamengo».
O que achou do jogo Fluminense x Flamengo? «Este foi o segundo jogo que eu vi do Flamengo ao vivo. Vi um em Minas Gerais, que por sinal também não ganhou, e vi o de ontem. Dois jogos completamente distintos. Em relação a ontem, vi uma equipa do Flamengo um pouco ansiosa, mas isso é normal pelo facto de estar numa tentativa de recuperação pontual em relação ao primeiro classificado. Vi um Fluminense com outras opções e com outras formas de olhar para o jogo, não pela vitória mas pela tentativa de não perder, o que complicou a equipa do Flamengo. Isso criou alguma desestabilização. Isso aconteceu ao Marcelo [Salles], pode acontecer-me a mim. O futebol tem duas componentes: organizar e desorganizar. A diferença está entre saber organizar ou desorganizar bem. E os técnicos são diferentes uns dos outros».
Que estilo de jogo vai querer ver? «A sua pergunta leva-me a falar tecnicamente do que é o treinador e do que é o jogo. Para lhe apresentar uma ideia de jogo tenho de falar em várias vertentes da tática do jogo e do sistema de jogo, que me parece que é o que quer saber. Eu tenho um conceito, uma ideia de jogo. Hoje a evolução do futebol não é ter uma ideia de jogo, é ter muitas ideias de jogo. É modificares durante o jogo os sistemas de jogo. Essa vai ser a evolução do mundo do futebol. Aquele que tento agora fazer é não fugir muito do sistema que o Flamengo tem apresentado, com algumas variantes. Nós gostamos de jogar com um primeiro e um segundo avançado. Isso vai ser uma característica que vou apresentar aos jogadores. Tudo isso tem várias variantes do sistema, vários métodos de trabalho defensivo e ofensivo. Vocês sabem que no futebol há cinco momentos de jogo. São os momentos de jogo em que os jogadores têm que saber o que fazer».
Que mudanças no elenco? «Uma das minhas razões para a opção em relação ao Flamengo foi a língua, e vocês dizem elenco, nós dizemos plantel. Há aqui alguns adjetivos que tenho que identificar. Claro que conheço o elenco da equipa do Flamengo. Eu não vi o Flamengo a partir do momento em que me convidaram para trabalhar no Flamengo. Eu vejo todos os jogos do futebol brasileiro em minha casa. Não sei se é fazer publicidade a alguma televisão, mas o PFC dá todos os jogos do campeonato brasileiro, não os 90 minutos, mas trabalhados. Eu via os jogos todos, sem saber que poderia treinar o Flamengo. A partir do momento em que soube, debrucei-me muito melhor e conheci muito melhor os jogadores. Não conheço tão bem como o Marcelo [Salles], mas vou conhecer. Quando fui abordado, já havia posições para as quais eles achavam que era importante contratar, eu concordei com isso. Acrescentei mais uma... uma que podem ser duas. Estamos em sintonia. Sinto nas pessoas que estão no Flamengo uma vontade muito grande e uma paixão muito grande para ajudar qualquer técnico. Penso que vai sair tudo bem».
Relação com os jogadores brasileiros? Tive a oportunidade de relançar alguns jogadores brasileiros em Portugal. Lembro-me do David Luiz, Ramires, Luisão, Talisca… em Portugal fomos habituados a ter muitos jogadores e treinadores brasileiros, entre os quais o Felipão, que foi acarinhado e admirado. O futebol brasileiro é de muita técnica, muito talento. Na Europa também há muitos treinadores que disto percebem pouco… Tudo isso fez com que a minha facilidade de trabalhar com jogadores brasileiros fosse muita. Como sabem, antes de ser treinador fui jogador, joguei sempre em Portugal. Como jogador, no meu onze, nove eram brasileiros. O único português era eu e o guarda-redes. Estou habituado a conviver com eles.
Contrato de um ano? «Não é por ser o Flamengo, eu normalmente faço isso. Eu saí do meu país para o futebol árabe no ano passado exatamente com a mesma coisa, um ano de contrato. A direção queria fazer quatro anos, eu disse: ‘só faço um’. Se me adaptasse e estivessem contentes comigo, renovávamos. Aqui no Flamengo é a mesma coisa. Há uma adaptação, há exigência de trabalho e de resultados, e assim ninguém fica dependente de ninguém».