Poucas finais da Taça de Portugal foram tão atribuladas como a de 1994, ganha pelo FC Porto, que terminou a usar o troféu da Prova Rainha como um escudo para proteção. Nem mesmo Manuela Ferreira Leite, ministra da Educação na altura, escapou ao arremesso de pedras da calçada e alguns objetos mais ou menos identificados.
A meio da década de 90, o empate numa final da Taça não significava, como acontece nos dias de hoje, prolongamento e possível desempate de grandes penalidades. O jogo decisivo de 1994 acabou a zeros e a decisão do vencedor passou para um segundo jogo, uma finalíssima que, segundo rezam as crónicas, foi bem mais interessante do que o primeiro empate.
O local foi o mesmo, o Estádio do Jamor, palco nem sempre muito apreciado por Jorge Nuno Pinto da Costa, líder dos azuis e brancos. Na verdade, foi no recinto mítico de Oeiras que o FC Porto viveu um dos episódios mais marcantes da era vitoriosa que começou na década de 80.
O campeonato tinha sido assegurado pelo Benfica, com os dragões a ultrapassarem o Sporting na segunda posição durante as últimas jornadas. A Taça seria, portanto, uma espécie de prémio de consolo para as duas formações, que foram bem menos conservadoras na segunda das finais, oferecendo um espetáculo emocionante à plateia apaixonante do Jamor.
O FC Porto até entrou melhor, com Rui Jorge (sim, esse que venceria dois campeonatos de leão ao peito) a brilhar num remate colocadíssimo, mas a reação leonina foi forte, tendo Vujačić materializado o empate num disparo que deixou Vítor Baía (a jogar de boné, à boa maneira dos 90´s) impotente.
O problema para a equipa de Queiroz é que, logo no primeiro lance do prolongamento, Peixe fez uma bela defesa, recebendo ordem de expulsão por parte do muito contestado José Pratas. Aloísio, uma entre várias referências presentes nesse onze (para além de Baía, pontificavam nomes como Fernando Couto, António André, Paulinho Santos e Secretário), não desperdiçou, encaminhando a Prova Rainha para a Invicta.
Seguiram-se momentos de polémica, com Fernando Couto a entrar forte sobre Pacheco e o avançado leonino a responder com uma pisadela, lance que deu início à enxurrada de pedregulhos e garrafas na direção dos jogadores portistas. Entre recuos e avanços na escadaria do Jamor, o capitão João Pinto, o mais corajoso de todos, chegou lá acima e levantou a Taça, que serviu de escudo para os tais objetos que nesse dia voaram na direção da tribuna. «O que é importante é que estamos na Capital do Império», ironizava Pinto da Costa, face a um cenário quase dantesco.
1-2 a.p. | ||
Budimir Vujačić 55' | Rui Jorge 35' Aloísio 91' (g.p.) |