Créteil. Cidade situada no Val-de-Marne, Île-de-France, pouco mais de 10 km do centro de Paris. É lá que mora o US Créteil-Lusitanos. Um clube fundado em 1936, por onde passaram jogadores como Rabiot, Matuidi ou Benatia e que tem uma ligação muito especial a Portugal. O presidente é português, o diretor desportivo é português, a equipa técnica é portuguesa e o plantel conta com quatro portugueses [Pardal, Muxa, Fábio Pereira e Edgar Almeida].
No entanto, os últimos anos não trazem boas memórias. Duas descidas de divisão num espaço de três épocas levaram a uma nova realidade no 4.º escalão. Uma boa oportunidade para reestruturar o clube. O antigo internacional português Carlos Secretário foi o homem escolhido pela Direção para assumir os destinos da equipa e levou consigo os adjuntos Eduardo Galiza e Manuel Ramos (Nene).
Resultado? Subida de divisão! A festa foi feita no último sábado, depois da vitória em Sedan (0x2), a quatro jornadas do final do Campeonato. Motivo mais do que suficiente para o zerozero ‘viajar’ até Créteil para falar com os protagonistas.
«Sinto-me feliz por ter conseguido o objetivo num contexto difícil. O Créteil vinha de duas descidas em três anos, passou por mudanças na sua estrutura e não podemos esquecer que estamos inseridos numa série muito equilibrada. Mas tínhamos todas as condições para alcançar o objetivo. O clube oferece-nos condições de trabalho extraordinárias e conseguimos formar uma excelente equipa», começa por dizer Carlos Secretário, em conversa com o zerozero.
«Diria que foi uma época perfeita em todos os aspetos. Muito especial por estarmos a representar condignamente o nosso país no estrangeiro. É mais uma prova de que os treinadores portugueses são dos melhores entre a classe», defende o ajunto Eduardo Galiza, que acompanha Secretário desde a temporada passada.
A quarta divisão do futebol francês divide-se em quatro séries (A, B, C e D). O Créteil-Lusitanos foi o primeiro a confirmar a subida de divisão, fruto de um rendimento acima da média, traduzido em números esclarecedores: melhor ataque (49 golos marcados), melhor defesa (14 sofridos) e série mais duradoura sem conhecer o sabor da derrota – não perde desde dezembro.
Fica a ideia de que foi tudo muito simples, mas Secretário interrompe-nos para explicar que a caminhada para o sucesso não foi tão fácil como aparenta.
«Somos o melhor ataque e somos a melhor defesa, de longe. O trabalho tático que fizemos com a equipa, que penso que seja a grande lacuna nesta divisão, pois impera muito o lado físico, fez com que as coisas corressem bem logo desde início. Felizmente fomos recebidos por jogadores com mentes abertas e que tornaram tudo muito mais fácil», explica Nene, que se juntou à equipa técnica de Secretário depois de seis anos a trabalhar em Omã.
Realidade. Importa focar neste ponto. Apesar do Créteil-Lusitanos estar na 4.ª divisão, estamos a falar de um clube que proporciona condições ao nível de muitas equipas das nossas 1.ª e 2.ª ligas. Palavra de quem conhece bem as duas… realidades.
«Tenho muito gosto em estar a treinar este clube. Tenho aqui condições semelhantes a clubes da segunda liga portuguesa ou até de alguns da primeira. E não quero com isto dizer que Portugal não tem condições, até porque o nosso campeonato é competitivo e tem grandes jogadores, mas é diferente», complementa.
«Não nos falta nada! É um projeto muito bom, com condições ótimas. Obviamente que nos custa pela questão familiar, pois não é fácil estar longe de casa, mas foi um ano de investimento para a nossa família. Felizmente temos a sorte deles nos apoiarem em tudo», aponta ainda Eduardo.
«Houve uma simbiose muito grande e penso que isso também foi a chave do sucesso.» As palavras são de Nene e ajudam a explicar o sucesso imediato da equipa técnica lusa em Créteil. E agora o futuro?
«Um treinador está sempre preparado para ir para todo o lado. É óbvio que sou um treinador ambicioso. Estou aqui para ganhar. Foi assim durante o meu percurso como jogador e agora não é diferente. Pretendo voos mais altos», confidencia Secretário ao zerozero.«Se vai ser em Portugal, França, Espanha, Inglaterra, China… Não sei, não faço ideia. Neste momento estou 100% focado no projeto do Créteil, mas tenho a ambição de subir na carreira. Tudo aponta para que seja para continuar aqui no próximo ano, mas o objetivo ainda não está definido. Vamos ver», remata.
Viveu alguns dos melhores anos do Créteil, enquanto jogador, durante cinco temporadas, e regressou este ano para assumir o papel de diretor desportivo, num dos momentos mais complicados da história de vida do emblema francês.
«O presidente sabe que me dedico de corpo e alma a tudo o que faço. É uma situação nova para mim, mas aproveitei muita bagagem que ganhei enquanto jogador. Acho que para um principiante, nestas funções, não correu nada mal. Foi-me pedido que fizesse a ligação entre treinador, jogadores e direção e que metesse em prática certos valores que aprendi no futebol», conta Pataca ao nosso site.
O primeiro passo está dado. A subida de divisão está consumada, mas até onde pode ir o projeto?«Estamos ainda muito concentrados em terminar o Campeonato. Não podemos permitir que certos níveis de euforia perturbem a prestação dos jogadores. Queremos ir com uma certa estabilidade para a divisão acima e será necessária uma nova reestruturação. Mas vamos apoiar-nos no que temos», alerta o diretor desportivo.
«A mensagem que passei aos jogadores foi simples: a última imagem é a que fica. Queremos terminar bem a temporada», remata.
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