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    Rui Almeida na luta pela subida

    Não há duas sem Troyes: A história de sucesso de um português em França

    q É um bocadinho como em Portugal, não têm como segurar os jovens talentos e é difícil a liga subir porque o campeonato espanhol e o inglês absorvem esses talentos
    Rui Almeida sobre o futebol francês
    Esteve em Portugal como treinador adjunto, mas é em França que Rui Almeida vai tendo cada vez mais um papel principal. A completar a terceira época no futebol francês, o treinador de 49 anos está perto de conseguir o acesso ao play-off de subida à Ligue 1 com o Troyes.

    Ainda há 12 pontos em disputa, mas a equipa do treinador português está em boa posição para garantir o terceiro lugar e olhar ainda com mais ambição para o regresso a uma liga onde o Troyes esteve há uma temporada e por onde Rui Almeida também já passou.

    Em 2016/17, o desafio de assumir o Bastia foi exigente, mas impossível de recusar. Apesar de alguns bons resultados, Rui Almeida não conseguiu evitar a descida de um clube afundado em problemas financeiros, que atualmente perdeu o estatuto de profissional e caiu para as divisões amadoras de França. Valeu pela experiência e pela aprendizagem, que fez o treinador português voltar mais forte para demonstrar, novamente em França, que é capaz de, tal como outros treinadores portugueses, brilhar fora de casa.

    O trajeto de Rui Almeida passou por vários clubes, quase sempre como adjunto, mas as experiências ao lado de figuras importantes do futebol português, como o «professor Jesualdo Ferreira», fizeram com que a paixão pelo desporto fosse crescendo. Em entrevista ao zerozero, o treinador deixou a tática de lado por uns minutos e falou sobre o trajeto em França, a ambição de regressar à Ligue 1 e ainda dos desejos para o futuro, que pode, ou não, passar por Portugal.

    ©SC Bastia

    «Posso dizer que estou mais consolidado em França»

    ZZ: Red Star, Bastia, Troyes. São já três clubes em França. Conte-nos um pouco destes anos e experiências pelo futebol gaulês.

    Rui Almeida: São experiências diferentes. Dois clubes na Segunda Liga, um clube na Primeira Liga. O Red Star propôs um objetivo de estabilização, embora tenha um grande historial esteve muitos anos afastado do futebol profissional. Fizemos o que estava longe das perspetivas do clube, que era ficar à porta da Primeira Liga. O Troyes é um clube que tem subido e descido nos últimos anos, tem feito os últimos anos na Primeira Liga, tem os olhos na Primeira Liga e é isso que temos tentado fazer. Estamos com um pé no play-off, falta consolidá-lo. São dois clubes diferentes, em ambos lutei pela subida e ainda o Bastia, da Primeira Liga. Agora posso dizer que estou mais consolidado em França, porque é o meu terceiro clube.

    Bastia foi porta para a Ligue 1 ©Rui Almeida - Facebook

    ZZ: No Bastia não deu para garantir a manutenção e depois optou por fazer uma pequena paragem. Qual foi o objetivo dessa pausa?

    Rui Almeida: Já não parava há muitos anos e aproveitei para, como muitos treinadores, pensar, estudar e passar tempo com a família. Estou há muito tempo fora e aproveitei para isso tudo. Foi um ano à espera de um convite que eu achasse que fosse o convite dentro daquilo que eu quero - projetos ambiciosos, como este, ou um projeto de uma equipa de Primeira Liga. No mercado há exemplos de treinadores que fazem interregnos, acabei por o fazer. Terminei no Bastia com uma situação ímpar, o clube saiu do futebol profissional porque em França há regulamentos diferentes de Portugal. A parte financeira dos clubes é controlada pela DCG e quem não tem contas positivas não consegue competir no futebol profissional.

    ©ESTAC Troyes

    Objetivo ambicioso com setembro como ponto de viragem

    ZZ: O Troyes é, talvez, o projeto mais ambicioso que enfrenta enquanto treinador principal. Assinou contrato de dois anos, é o tempo de duração do projeto de subida?

    Rui Almeida: A Segunda Liga francesa é um dos campeonatos mais competitivos da Europa. Alguns estudos consideraram mesmo a liga mais competitiva, pela média de pontos no campeonato. O presidente teve realismo e disse que era um momento em que iam mudar muitos jogadores, mudou 70 por cento da equipa. É um ano de estabilização, havia exemplos recentes de equipas que desciam da Primeira Liga e quase desciam da Segunda na época a seguir. Esse foi um pedido do presidente, mudar parte da equipa, mas estabilizar, não vacilar na Segunda Liga. Eu disse que sim, mas que sou ambicioso, até porque com o Red Star também aconteceu isso e levei o clube a um nível alto na classificação. Disse que íamos fazer isso, mas sendo ambiciosos e felizmente aconteceu. Estamos a tocar o play-off.

    ZZ: O terceiro classificado tem menos um jogo de play-off. O objetivo para as próximas jornadas passa por consolidar esta posição?

    Rui Almeida: Chegámos a esta posição e o primeiro objetivo é conseguir as vitórias suficientes para manter a terceira posição. Isso tira-nos um jogo de play-off e jogamos em casa o jogo contra a equipa da Segunda Liga. Fazendo um jogo a menos, iremos mais frescos para o jogo contra a equipa da Primeira Liga, mas neste momento é continuar esta sequência. Ainda não temos o lugar de play-off consolidado. Faltam 12 pontos e nós estamos com mais quatro do que o Lorient e mais seis do que o quinto classificado. Temos de consolidar essa posição e dar continuidade ao bom momento.

    Grupo demorou a ser composto ©Rui Almeida - Twitter

    ZZ: Agora está na melhor fase da época, com dez jogos sem perder, mas o início foi complicado, com apenas três pontos ao fim de seis jornadas. Quais as explicações para isso?

    Rui Almeida: O início da época foi difícil. É como em Inglaterra, mas a diferença é que em França não há o paraquedas financeiro. Os orçamentos da Primeira Liga para a Segunda têm uma diferença brutal. A maioria dos jogadores saem e nesse interregno, entre a saída e a não-saída, houve jogadores nossos que saíram no último dia do mercado de verão. Por exemplo, o Charles Traoré saiu para o Nantes. Isto limitou o início do campeonato porque não conseguimos contratar, uma vez que os jogadores ainda não tinham saído. Fizemos seis jornadas em que estávamos com jogadores como o Suk, que saiu no final de julho. Havia jogadores que podiam sair e acabaram mesmo por sair. Essas seis jornadas, até final de agosto, foram difíceis, não tínhamos o plantel na totalidade. Recrutámos sete jogadores na última semana de agosto e a partir de 1 de setembro... basta fazer as contas. Somos os primeiros classificados a partir do fecho do mercado. Tivemos que trabalhar em cima da competição, o que nem sempre é fácil, mas o facto é que se somarmos os pontos a partir da sétima jornada somos os primeiros classificados. Isso não conta nada, mas consolida o que estou a dizer. Esta dificuldade de transição da Primeira para a Segunda Liga e acima de tudo o bom momento que já vem desde a sétima jornada. Em 2019 só perdemos um jogo e estamos com uma série de 10 jogos sem perder, com oito vitórias e dois empates.

    ZZ: O jogo decisivo para a subida pode ser contra uma equipa da Primeira Liga. Isso não é favorecer o emblema na teoria mais forte?

    Rui Almeida: Não quero colocar as coisas à frente porque ainda não está fechado, mas vemos o play-off com ambição, sem dúvida, mas é um play-off feito para as equipas da Primeira Liga, as da Segunda Liga têm de fazer um ou dois jogos e ainda um jogo contra a equipa da Primeira Liga. Os play-off têm sido alterados, o Troyes, há dois anos, eliminou o Lorient, da Primeira Liga, por exemplo.

    ©Pedro Benavente

    O «professor» e a visão sobre o futebol do campeão do Mundo

    ZZ: Em Portugal era quase um desconhecido quando chegou ao Bastia, numa época em que os portugueses estavam muito atentos ao campeonato francês. Como é o futebol por aí?

    Rui Almeida: Eu não posso controlar se as pessoas me conhecem ou não. A liga francesa teve cá o Sérgio Conceição, tem o Leonardo Jardim, o Artur Jorge há uns anos atrás. É uma liga com um nível muito elevado. Veja-se a dificuldade do Leonardo Jardim, que foi campeão há dois anos e agora está numa situação difícil. É uma liga muito competitiva e difícil. Eu fiz o meu percurso, tenho mais de 100 jogos em França. Estamos a falar de um país de campeões do mundo. Fiz o meu percurso em Portugal, por diferentes clubes, terminei como adjunto do professor Jesualdo Ferreira no Sporting e no Braga, tal como outros treinadores. O Nuno, que está no Wolverhampton, o José Gomes, que está no Reading... Somos os três filhos do professor no alto nível.

    Muitos campeões do Mundo não jogam no campeonato francês ©Getty /

    ZZ: E como é ser um treinador português em França? Difícil? A crítica anda muito em cima?

    Rui Almeida: Há uma quantidade e qualidade de jogadores elevadíssima. Na minha opinião, a qualidade da Liga francesa só não é superior porque os jovens valores também saem. Basta ver os últimos anos. O Mónaco é o caso mais recente, mas há o caso do Varane, que saiu do Lens, o Pogba, o Kanté... É um bocadinho como em Portugal, não têm como segurar os jovens talentos e é difícil a liga subir porque o campeonato espanhol e o inglês absorvem esses talentos. A qualidade, mesmo com os que saem, é muita. É de top 5, juntando a Espanha, Itália, Inglaterra e Alemanha. Para mim, estar num campeonato assim, é um orgulho imenso. O campeonato francês, ao contrário do inglês, não é aberto a treinadores estrangeiros. Na Ligue 1 estava o Tuchel, entrou o Paulo Sousa e está o Leonardo Jardim. Na Ligue 2 não há estrangeiros, só no Paris FC, que tem um treinador que está há 20 anos em França. Isto mostra a dificuldade, temos que ser competentes. Não é fácil treinar em França porque não há essa cultura dos treinadores estrangeiros. Eles são exigentes, assim como nós somos exigentes com os estrangeiros. Aqui é a mesma coisa. Estamos a falar de uma liga de nível elevado e por isso não há muitos estrangeiros. Somos três portugueses no mercado francês, se olharmos para o top 5 somos seis, está o Marco, o Nuno e o José Gomes.

    ZZ: Já largou o papel de adjunto há umas épocas. Como avalia o trajeto como treinador principal até aqui e quais são os objetivos a curto-médio prazo?

    Rui Almeida: O trajeto tem sido construído passo a passo. Quando saí de adjunto para a seleção [olímpica] da Síria achei que era o momento certo e depois só com um pedido irrecusável do professor Jesualdo voltei para adjunto, mas com muito prazer. Foi um momento interessante nos quatro clubes que estive com o professor. Neste momento, a muito curto prazo, o objetivo é subir com o Troyes e se olharmos mais à frente, em dois ou três anos, fazer o que fiz como adjunto. Estar em clubes de grande nível, como o Sporting, Braga, seja em Portugal, Espanha, França, noutro país, e ganhar títulos, como fiz com outros clubes. É disso que nós, treinadores, vivemos.

    Portugal é possibilidade, títulos são ambição

    ZZ: E Portugal está nessa lista de objetivos?

    Rui Almeida: Eu olho para Portugal como todos os bons campeonatos europeus. É o meu país, perante o projeto que acho indicado poderei ir, mas terá que ser um projeto ambicioso dentro do patamar que eu estava a dizer, ou seja, clubes que trabalhei em Portugal como adjunto e que gostaria de abraçar como treinador principal, sem dúvida.

    Rui Almeida
    2018/2019

    38 Jogos
    21 Vitórias
    7 Empates
    10 Derrotas

    50 Golos
    29 Golos sofridos

    ver mais »

    ZZ: Sendo um português a trabalhar lá por fora, como olha para o nosso futebol? Que aspetos positivos e negativos aponta?

    Rui Almeida: Positivo é a qualidade dos jogadores e treinadores, sem dúvida. Acima de tudo temos de proteger o que é a essência do jogo, do futebol, que é o jogador, a qualidade. O centro são os jogadores, a atenção tem que ser dada aos jogadores. Não dar realce à razão pela qual as pessoas vão ao jogo não tem lógica nenhuma.

    ZZ: Por fim, o que gostaria de ter para me dizer se falássemos daqui a cinco anos?

    Rui Almeida: Gostava que estivesse a dar-me os parabéns por ter ganho um ou dois títulos. Espero sinceramente que tenha sucesso na Primeira Liga como estou a ter na Segunda, em França, que tenha o mesmo sucesso noutros campeonatos e que alcance os objetivos que tenho em França. Que daqui a cinco anos me dê os parabéns por um título aqui e ali. Tenho muito prazer pelo treino e pelo jogo e isso seria fantástico.

    Portugal
    Rui Almeida
    NomeRui Miguel Garcia Lopes de Almeida
    Nascimento/Idade1969-09-29(54 anos)
    Nacionalidade
    Portugal
    Portugal
    FunçãoTreinador

    Fotografias(17)

    Liga NOS: Gil Vicente x V. Guimarães
    Liga NOS: Sporting CP x Gil Vicente FC

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    motivo:
    RN
    Rui Almeida
    2019-04-25 16h24m por RN123
    Desejo muita sorte nesta fase final da época.
    Espero que consigam subir à Ligue 1.
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