O antigo defesa de Belenenses, Vitória de Setúbal, Santa Clara, Chaves, entre outros, viveu três anos no segundo país mais populoso do Mundo. Longe de um futebol industrializado, a respirar uma cultura desportiva totalmente diferente. Importante para «recuperar energias», diz-nos.
«Essa possibilidade surgiu em junho de 2016. Decidi parar um pouco e viver outras experiências depois da passagem pelo Moura [2014/15]. Sempre tive curiosidade pelo continente asiático e a Índia estava nos meus planos. Queria também parar de viver nesta sociedade e competitividade que existe em Portugal e recuperar energias. Então decidi arrancar…», começa por explicar Rui Gregório, em conversa com o zerozero.
«O projeto era muito simples. Uma pessoa amiga convidou-me para abrirmos umas academias em Bangalore. Abrimos três. Ainda treinei a equipa do Bangalore na liga indiana e desempenhei funções de diretor desportivo. Vivi quase três anos na Índia e tenho a certeza de que sou hoje outra pessoa pelo facto de ter vivido numa cultura tão rica», sustenta.«Naquele país vive-se uma espiritualidade diferente. Uma forma de ver a vida muito mais tranquila, despreocupada… A competição no futebol existe, mas não é tão vincada. E respeita-se muito o papel de treinador. Não direi que foi uma lição, mas abriu-me outras perspetivas», remata.
A questão não é nossa. É mais uma pergunta retórica de Rui Gregório. Depois de compreender e aceitar a ‘diferença’, de perceber a forma peculiar como as pessoas procuravam estabelecer contacto - estavam sempre a perguntar a Rui se já tinha tomado o pequeno almoço - e de estar perfeitamente integrado num mundo despreocupado, o treinador de 50 anos decidiu que estava na altura de regressar a Portugal.
«Senti uma grande pena... Não foi uma decisão de um dia para o outro. Tinha contrato até 2020, mas no final de dezembro decidi que era a altura de parar e de voltar à competição mais num género europeu. Sinto que estou no meu melhor e aceito muito mais o que me está destinado, seja em termos de resultados ou de equipa. Nós fazemos o melhor, mas tudo está traçado», justifica Gregório ao nosso site.«Não tenho dúvidas de que a forma como vejo as coisas mudou. Nunca me deixei enlouquecer por um resultado, atenção, mas aquela adrenalina tão forte no dia do jogo ou na véspera altera a nossa forma de estar. Não vou passar mais por isso», acrescenta.
«Podemos ter essas emoções, mas de forma mais controlada para que não nos prejudique no momento da decisão. Melhorei muito com esta experiência na Índia», conclui.
O futebol está em constante mudança e em três anos muito mudou e aconteceu no português. Afinal que futebol deixou e qual aquele que encontrou Rui Gregório depois da passagem pela Índia?
«É tão estranho… Lá via muito pouca televisão, nem sequer tinha canais portugueses. Nem me quis inserir nos grupos de Facebook. Estava tão focado na realidade em que vivia que a primeira sensação que tive foi a de estar a regressar a um mundo novo», conta, entre risos.
«Agora tenho aproveitado para ir ver alguns jogos e perceber a intensidade a que se joga, jogadores novos, sistemas táticos e essas coisas. Quando saí estava quase instituído o 4x3x3 e esporadicamente o 4x4x2 e agora já vemos equipas em 3x4x3 ou 3x5x2. Tenho trabalhado nesse sentido para estar preparado caso volte a trabalhar em Portugal», completa.
É melhor treinador hoje do que era há três anos? «Sinto-me melhor ser humano, melhor condutor de homens, melhor treinador… E espero estar ainda melhor aos 70 anos. Faz parte. No futebol temos sempre de ir criando motivação para ir buscar alguma coisa nova.»