miguelcarvalho244 18-04-2024, 00:05
O clube mais titulado da Alemanha está no sul e dá pelo nome de Bayern de Munique. Mas quando o assunto é a “casa-mãe” do futebol alemão, aí as gentes do Vale do Ruhr não se deixam subjugar pelo discurso bradejado pelos bávaros e afirmam, orgulhosos, que é neles e na sua terra que bate o coração do Fussball germânico. E é esse “solo sagrado”, partilhado sobretudo por Borussia Dortmund e Schalke 04, que o zerozero pisa por estes dias, à boleia da visita de dois “filhos da terra” a Gelsenkirchen.
Leroy Sané e Ilkay Gündogan são jogadores feitos e de estatuto vincado no Manchester City de Pep Guardiola, mas os fundamentos do seu futebol foram construídos e solidificados na terra onde as minas de carvão forjam o caráter da população e alimentam o amor pelo jogo. Os dois - hoje homens de seleção - foram meninos em Gelsenkirchen, embora só um venha a ser recebido de braços abertos na Arena do Schalke, esta quarta-feira.
Os 50 milhões de euros transferidos pelo Manchester City em 2016 “roubaram” ao Schalke a oportunidade de o ver crescer por inteiro em sua casa. Leroy Sané tinha apenas 20 anos, mas o sonho inglês falou mais alto e o Schalke ficou para trás, assim como a casa dos pais em Bochum-Wattenscheid, a 15 quilómetros do anfiteatro dos “Königsblauen”. Dois anos e meio depois, o pequeno Leroy está de volta, mais maduro e com outro estatuto. O irmão mais novo, Sidi, ainda joga no Schalke, nos sub-15.
Agradado pelo reencontro está também Christian Heidl, o homem que negociou os 50 milhões de euros e diretor desportivo dos alemães. «Estamos felizes pelo reencontro com o Leroy, mas com ele vem uma equipa que é uma das favoritas a ganhar a Liga dos Campeões. Não há desafio maior», confessou, citado na imprensa alemã. Competição à parte, percebe-se em Gelsenkirchen que o menino da casa (ainda o é, aos 23 anos) vai ser bem recebido, ao contrário de Ilkay Gündogan.
Filho de pais turcos, Gündogan viveu os primeiros 18 anos a escassos seis quilómetros do antigo Parkstadion, casa do Schalke durante três décadas. Embora a ligação ao futebol do país natal tenha prevalecido na infância, a primeira romaria a um estádio aconteceu precisamente ao Parkstadion, levado pelo pai, aos sete anos. «Jogar em Gelsenkirchen é jogar em casa», diz Gündogan ao jornal WAZ, embora admita: «Nunca fui adepto do Schalke», apesar da família e das amizades que mantém.
A razão pela qual o internacional alemão, de 28 anos, não vai ser recebido como um “dos seus” pelos adeptos do Schalke é simples de explicar. Entre 2011 e 2017, Gündogan cresceu e floresceu no Borussia Dortmund, o arquirrival dos mineiros. E uma vez percorridos os 40 quilómetros que distam entre os dois estádios – hoje Veltins Arena e Signal Iduna Park -, tinha-se quebrado o laço com Gelsenkirchen. Gündogan sabe disso, por isso não se esquiva às palavras que cirurgicamente ferem o coração azul.
«Para ser sincero, ficamos um pouco contentes quando nos saiu o Schalke no sorteio», conta o ex-Borussia Dortmund. Sinceridade ou provocação? Talvez um pouco das duas. Esta quarta-feira (20 horas), Gündogan vai ter de suportar o dualismo de afetividade que a Arena do Schalke vai oferecer aos dois filhos da terra.
2-3 | ||
Nabil Bentaleb 38' (g.p.) 45' (g.p.) | Kun Agüero 18' Leroy Sané 85' Raheem Sterling 90' |