São nove ilhas em que a natureza domina os cartões postais e as memórias de quem as visita, mas foi a maior de todas que ganhou o cognome de Ilha Verde. E é fácil perceber porquê. Aterrar no aeroporto João Paulo II e fazer a curta viagem até ao centro de Ponta Delgada é maravilharmo-nos com os campos verdejantes encosta acima e a perder de vista. Um cenário idílico para descanso, programas de aventura… ou - porque não? - futebol.
Não há volta a dar, a visita do Benfica a Ponta Delgada mexe com toda a ilha. É tema de conversa nos cafés, nas ruas, nas praças de táxi… e é junto a uma fila de táxis a dois passos das Portas da Cidade - um dos ex-libris de Ponta Delgada - que um taxista solta, como quem escreve um título de jornal: «Ilha Verde? Hoje não há verde para ninguém, é tudo encarnado!».
Foram mais de 15 anos em que o Benfica não visitou o Santa Clara, durante todo este tempo arredado dos grandes palcos do futebol nacional. Sendo São Miguel uma ilha em que apoiar Santa Clara e Benfica em simultâneo é, para muitos, um modo de vida, será para muitos impossível evitar algum conflito interno. «Estou dividido. Sou do Santa Clara e sou também do Benfica. Não podem ganhar os dois, por isso que empatem», diz-nos pouco depois da nossa chegada um micaelense com o sotaque encantador e carregado que, para o ouvido destreinado, obriga a pelo menos alguns segundos de adaptação e concentração. Sendo este um caso como muitos outros pela ilha fora, não seria de esperar outra coisa que não uma enchente no estádio de São Miguel, com todas as dificuldades que conseguir lá um lugar acarretou.
Euforia nos Açores na chegada da equipa. ✈😀#CDSCSLB! pic.twitter.com/S9a0yPkWPT
— SL Benfica (@SLBenfica) 11 de janeiro de 2019
Mas já lá vamos, porque logo de véspera foi possível ver o impacto da visita das águias a Ponta Delgada. O relógio aproximava-se das 11 da noite quando o autocarro que transportava a equipa de Bruno Lage chegou à unidade hoteleira que lhe foi destinada em Ponta Delgada e centenas de adeptos - cerca de meio milhar - aplaudiram, com cânticos de «Glorioso SLB» pelo meio. E isto apesar da chuva que caía de forma intermitente, como continua a cair ao longo desta sexta-feira.
Só um aspeto vai manchando a ante-câmara do encontro: a calendarização do jogo. Muitos fizeram planos de acompanhar a equipa até aos Açores, marcaram voos, hotéis e tudo o que a viagem implica, para depois perceberem que o encontro seria marcado para o fim de tarde de sexta-feira, destruindo os planos de futebol ao fim-de-semana. Não estará tudo perdido, porque há mesmo muito para ver na Ilha de São Miguel (lugares como as Furnas ou as Sete Cidades ajudarão a sarar as feridas de quem perdeu o principal propósito da visita), mas a marcação tardia do jogo por parte da Liga, com o que um encontro destes implica para o turismo local, foi vista com indignação geral.
Ainda assim, mesmo quem conseguiu garantir que estaria no palco à hora do encontro enfrentou dificuldades para conseguir o lugar: a venda antecipada de bilhetes na sede do Santa Clara levou a horas de espera e vários sócios aproveitaram a falta de regulamentação na venda para comprarem «bilhetes em excesso», como veio a lamentar o presidente Rui Cordeiro, prometendo melhorias na regulamentação para os próximos encontros. Como não foram comprados para desaparecer, muitos bilhetes foram parar ao chamado mercado negro, tendo a própria PSP alertado para o facto que pode configurar um crime.
Para o dia do jogo estava prevista, como indicam os regulamentos, a venda dos últimos bilhetes. 500 bilhetes foram colocados à venda nas bilheteiras do Estádio de São Miguel, sendo que a venda arrancou apenas às 12h30 desta sexta-feira. Resultado? Antes da meia-noite já havia adeptos à espera às portas do estádio, preparados para enfrentar a noite ao relente, e ao início da manhã já havia fila formada.
A quatro horas e meia do arranque do encontro passamos no recinto para fazer o ponto de situação e vemos que as filas continuam e que ainda há quem tenha fé em conseguir um lugar naquele que é inevitavelmente um dos eventos do ano na ilha. E o Estádio de São Miguel, com pouco mais de 10 mil lugares, será pequeno neste fim de tarde.
0-2 | ||
Haris Seferovic 22' Jardel 48' |