*Parte 3/3 da reportagem sobre o Lusitano FCV
Mais de 30 anos ligado ao futebol e sempre em Viseu. O percurso de Rogério Sousa, um viseense de gema, é bastante singular. O treinador do Lusitano Vildemoinhos começou o percurso enquanto futebolista no Académico de Viseu, onde chegou a ser profissional durante vários anos, antes de passar pelo Penalva Castelo e Viseu Benfica.
Rogério Sousa Lusitano FCV Total |
David contra Golias. Profissional contra amador. Uma luta muito desigual ao nível de recursos, mas que não fica nada atrás em termos de paixão. Só assim se explica a boa disposição depois de um longo dia de trabalho antes de começar mais um treino.
Depois de oito horas a desempenhar funções de comercial no ramo automóvel, Rogério Sousa muda o «chip» e dedica mais umas quantas ao futebol. O mesmo acontece com a maioria dos jogadores. «Não é fácil», diz-nos. Mas a paixão supera tudo.
O jogo frente ao Sporting é acima de tudo um «prémio». Para todos aqueles que tornaram isto possível.
zerozero (ZZ): Começava com um pequeno exercício de memória. 29 de dezembro de 2001. Esta data diz-lhe alguma coisa?
Rogério Sousa (RS): Não, sinceramente não… [risos]
ZZ: Foi a última vez que um denominado grande jogou em Viseu… E o Rogério jogava na equipa do Académico.
RS: É verdade! Contra o FC Porto, é verdade...
ZZ: Muitos anos depois, Viseu volta a receber um grande. Recorde-me como foi a reação ao sorteio.
RS: Foi bom, era uma expectativa que os jogadores já tinham e eu também. É sempre bom. Para clubes da dimensão do Lusitano é sempre muito interessante, tanto mediaticamente como desportivamente e monetariamente. Na altura, eu estava a trabalhar e nem estava a conseguir ver o sorteio, mas recebi logo muitas chamadas de atletas, colegas e amigos. Fiquei contente pelo clube.
ZZ: O Rogério é um viseense de gema. Toda a carreira enquanto jogador por Viseu e agora também enquanto treinador. Como é viver este momento na sua cidade?
RS: É bom. Temos agora o Tondela na Liga, mas a cidade de Viseu anda arredada destes confrontos há algum tempo. E este jogo vem um pouco recordar essa época. Nota-se nisso na mobilização. Tenho tido imensos contactos a pedir bilhetes e a perguntar quando é o jogo. A cidade está mobilizada e há um entusiasmo pela cidade. Isso também é bom para o clube, pois podemos chamar as pessoas para o Lusitano, que merece ser acarinhado pela cidade de Viseu, sobretudo pelo trabalho que tem feito. Já passou um bocadinho a ideia de ser apenas o bairro de Vildemoinhos para um clube da cidade.
ZZ: E para os jogadores. A motivação certamente não será preciso trabalhar muito, mas como se controla a possível ansiedade dos jogadores?
RS: Não vale a pena estar a controlar nada. Isto é o real. Peço equilíbrio. Isto é bom para eles. Temos jovens com muito potencial que podem chegar a outro patamar e isto pode ser bom para eles. Agora temos de ter equilíbrio. Não podemos encher o balão todo e à primeira alfinetada esvaziar logo. Isto é bom, mas é muito melhor se conseguirmos ser competitivos.
ZZ: Estamos a falar de jogadores que conciliam o futebol com outra área profissional. Estamos a falar de um clube humilde e amador. Isto também é um prémio para eles?
RS: Um prémio merecido. Para alguns jogadores é vida difícil. Trabalhamos o dia todo e depois chegar aqui com o frio e termos de treinar e treinar sério. Não se faz este percurso se não trabalharmos de maneira séria. O ano passado fomos o único clube totalmente amador que conseguiu chegar à fase de subida. Estas coisas saem do corpo dos jogadores. Temos de controlar cargas de treino, mas é um prémio sem dúvida. É em certa medida um compensar todo o sacrifício que fazem no dia a dia. Vão ter a alegria de jogar contra um clube grande e defrontar os ídolos. Isso é muito bom.
ZZ: Dentro das dificuldades, a verdade é que o Lusitano tem feito um percurso muito interessante no seu Campeonato, como o Rogério referiu ainda agora. Qual é o segredo?
RS: Logicamente que o segredo é o trabalho. O clube mesmo sendo humilde é organizado. Nota-se nos resultados. Depois temos alguma sorte que os jogadores da zona [de Viseu] têm potencial enorme e o trabalho dita os bons resultados.
ZZ E a nível pessoal. É o reviver de tempos passados?
RS: É um desafio muito grande. Mas há uma diferença grande. Eu era profissional e podia-me focar nisto a 100%, aqui é dificuldade imensa. Tenho trabalho, tenho de me focar 8 horas no meu trabalho e depois tenho de desligar o ‘chip’ e focar-me mais 4 ou 5 horas no futebol. Não é fácil. Às vezes eu e a equipa técnica comemos em 10 minutos para termos depois uma hora e meia para planear o treino. Isto é extremamente difícil. Enquanto não houver oportunidade, temos de nos safar assim. Mas temos nos safado bem porque o plantel tem qualidade.
ZZ: Mostraram contra o Nacional que é possível eliminar algumas barreiras. Mas agora o Sporting é um desafio ainda mais complicado. É possível vencer este Sporting ou estamos a falar em algo utópico?
RS: Não podemos dizer que não é possível. Sabemos que a dificuldade é imensa. Nem falo em orçamentos que não tem nada a ver. Falo em questões de trabalho. Temos 4 sessões de trabalho por semana em que temos de meter tudo. Trabalho de campo, observação e físico. A grande diferença é essa. Se conseguíssemos trabalhar mais vezes, as diferenças seriam menores.
O Sporting é super favorito, mas temos uma réstia. Vamos agarrar-nos a ela. Vamos ser competitivos. O Nacional viu uma equipa jogar bem e com o Sporting vamos tentar que seja da mesma maneira. Naquela margem mínima que existe, acredito que podemos dar luta ao Sporting.
ZZ: Fica talvez a mágoa por o jogo não ser aqui nos Trambelos?
RS: Sim, logicamente… O público merecia isso e a verdade é que nos sentíamos mais à vontade. Mas é compreensível. Temos de pensar além disso. O clube precisa de outras coisas e mesmo em termo de espetadores. Não conseguíamos meter aqui um terço das pessoas que querem ver o jogo. E penso que não seria justo verem aqui o Lusitano. A direção optou pelo Fontelo e temos de apoiar a decisão. Foi a decisão mais acertada.
ZZ: Não será preciso deixar uma grande mensagem para os adeptos. O jogo por si só chega…
RS: Espero que apoiem o Lusitano também [risos]. Há muitos sportinguistas em Viseu, mas que apoiem o Lusitano. Os nossos amigos vão apoiar o lusitano. Vamos ser competitivos, vamos dar luta e disputar o jogo…
ZZ: Honrar o clube, a cidade e o Campeonato de Portugal. É isso?
RS: Exatamente. Este campeonato tem equipas de grande valia, é muito competitivo e por vezes é desprezado. Há muitas equipas a fazer história. Espero que este ano seja o Lusitano. Vamos dignificar tudo isso. Acredito que vamos ser uns dignos representantes deste Campeonato.
1-4 | ||
Diogo Braz 44' | Bas Dost 42' 71' Bruno Fernandes 64' Abdoulay Diaby 73' |