*com Ricardo Lestre
21 meses. Foram quase dois anos de um profundo pesadelo que parecia não ter fim. Santi Cazorla voltou a calçar as chuteiras e a sentir o cheiro da relva. A fazer aquilo que mais gosta. O minuto 67 do particular do Villarreal frente ao Hércules, da passada terça-feira, pode parecer irrelevante, mas vai ficar para sempre guardado na memória. Numa gaveta bem especial... e intocável.
O Arsenal esperou, cansou-se e o Submarino Amarelo salvou um filho da casa do afogamento a poucos dias do início do mercado. Um sorriso bem largo na cara de um homem que esteve a menos de um passo de ver o seu sonho desmoronar-se por completo. A história de Santiago Cazorla González emocionou o mundo. Nenhuma alma, por muito desinteresse demonstrado pelo belo desporto que é o futebol, conseguiu mostrar indiferença face à situação relatada pelo próprio, no final do ano passado, ao jornal Marca.
Tudo começou numa quarta-feira de Liga dos Campeões. Dia 19 de outubro de 2016, minuto 57, Santi Cazorla abandonava, de forma forçada, o encontro entre Arsenal e Ludogorets que viria a terminar com um triunfo folgado dos gunners em pleno Estádio Emirates por 6x0.
Uma lesão gravíssima no tornozelo direito fazia temer o pior. Aliás, falar em pior é pouco. Cazorla deu início a uma autêntica travessia pelo inferno. Porque tudo havia começado três anos antes.
#LaPortada El calvario de Cazorla pic.twitter.com/gt3QVOdZf7
— MARCA (@marca) 2 de novembro de 2017
Resistiu... e a sua vida virou de pernas para o ar. Mais tarde, o tendão de Aquiles deu as últimas. Foi operado, e o tempo de recuperação, inicialmente apontado para três semanas, estendeu-se para quase dois anos. Dois anos de lágrimas, desespero e muito medo, como o próprio confessou.
Uma infeção impediu que o processo de cicatrização se desenrolasse normalmente. Seguiram-se oito operações, mas sem sucesso. Em Inglaterra, os peritos davam sinais de uma eventual amputação.
«Tinha uma infeção tremenda que me tinha deteriorado o osso calcâneo e comido parte do tendão de aquiles. Faltavam-me oito centímetros», admitiu, recordando uma forte mensagem dos responsáveis pelo seu caso: «Em Inglaterra disseram que já poderia dar-me por satisfeito se conseguisse voltar a passear com o meu filho no jardim».
Em poucas palavras, Arsène Wenger descreveu a situação vivida pelo seu antigo jogador.
«É a pior lesão que alguma vez vi na minha vida. Começou com uma dor no tendão de Aquiles e foi piorando e piorando», admitiu.
O calvário chegou ao fim. Levou um soco no estômago. Dia 17 de julho de 2018. Este sim, deve ser relembrado. Santiago Cazorla González, vestiu o equipamento, colocou as caneleiras, calçou as botas e esboçou um sorriso que dispensa descrição.
Um momento gravado em fotografia prontinha para emoldurar. Sai Ramiro Guerra, entra Santi Cazorla.
No Mini Estadi, o pouquinho público presente tratou de ovacionar a entrada de um Homem, não um jogador de futebol. Com certeza, o som das palmas fez eco na eternidade. Seja lá ela onde for.
1-0 🚨 67' | ¡El público del Mini Estadi en pie! La afición 'grogueta' le brinda una emocionante ovación a @19SCazorla, que entra al terreno de juego en sustitución de @ramirogp6. ¡Vamos, Santi 💪! pic.twitter.com/4W53JbeQx8
— Villarreal CF (@VillarrealCF) 17 de julho de 2018