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      Primeira experiência do técnico no estrangeiro

      Francisco Chaló, o escolhido por «lançar jovens e fazer bons trabalhos com orçamentos mais baixos»

      2018/07/05 14:06
      E2

      Aos 54 anos, a primeira experiência no estrangeiro. Francisco Chaló deixou o Leixões com trabalho para a próxima época já feito, devido a um projeto «inadiável e irrecusável». O Paradou AC, recém-promovido na Argélia, é o novo projeto do quarto técnico com mais jogos e mais vitórias na II Liga, que não se esqueceu de agradecer ao emblema de Matosinhos.

      Em entrevista ao zerozero, logo após as primeiras 48h na Argélia, o técnico falou abertamente sobre a sua carreira, sobre a II Liga que conhece como poucos e sobre um projeto apaixonante no país das Raposas do Deserto. O regresso a Portugal, e quiçá para a I Liga ficará para depois, acontecendo «quando tiver de acontecer».

      «A Liga é sempre um desafio, mas não pode ser a qualquer preço»

      zerozero: Como analisa a sua carreira até ao momento?

      Francisco Chaló: A minha carreira tem sido uma carreira estável, pela continuidade dos projetos. Não muitos clubes, porque tenho continuado mais que um ano nalguns. Chegou uma determinada altura em que o projeto que me apresentaram e a vontade de ter os meus serviços foi determinante para abraçar este projeto, que é um desafio. Para um futebol diferente, em expansão, num país em que a expressão futebolística ainda não é muito grande, mas tem todo o potencial para se tornar maior. É um mercado que se abre para a minha carreira. Chegou a hora de dizer sim a um projeto desta natureza.

      Francisco Chaló
      Naval
      2007/2008

      5 Jogos
      0 Vitórias
      3 Empates
      2 Derrotas

      2 Golos
      7 Golos sofridos

      ver mais »
      ZZ: 13 anos de II Liga, boas campanhas, três vezes em que quase subiu e apenas quatro jogos na Liga.... Há uma explicação para isto?

      FC: Foram quatro jogos na Liga, num clube muito sui generis [Naval]. Por exemplo, o último jogo que fiz na Liga (3x0), foi considerado por toda a imprensa como um dos melhores de uma equipa menor no Estádio da Luz. Foram 28 remates à baliza do Quim! É tudo uma questão de oportunidade e opção. A Liga é sempre um desafio, contudo não pode ser a qualquer preço. Felizmente tenho tido um percurso muito interessante na II liga porque os projetos são mais ambiciosos que alguns da I Liga.

      ZZ: Faltou a proposta certa?

      FC: Faltou. Se calhar faltou também o equilíbrio da minha maneira de divulgar… Todos os contratos, à exceção deste, têm sido entre os presidentes e mim e sem agentes. E isso pode ter algum reflexo.

      ZZ: Como vê a evolução da II Liga ao longo de todos os anos?

      FC: A II Liga é um dos campeonatos mais competitivos em Portugal, é claramente uma triagem para qualquer treinador, devido às condições competitivas muito sui generis, e é um dos campeonatos mais competitivos da Europa! Devido às condições menores em relação aos clubes da Liga, é um campeonato extraordinariamente difícil. Obriga a ter o cuidado do ponto de vista do plano técnico e tático, a ter intervenções específicas. Estes campeonatos têm melhorado, não do ponto de vista qualitativo porque é difícil melhorar mais, mas pelo equilíbrio. A maior parte das equipas podem fazer o muito bom e o muito mau. E há sempre equipas que se apetrecham de forma fortíssima.

      «Na maior parte das vezes, somos escolhidos»

      ZZ: Na última época começou ao serviço do Académico, que acabou por ficar às portas da subida. Como vê toda esta polémica em relação à subida do Santa Clara?

      FC: Não sou a pessoa mais indicada… Se os próprios juristas têm dificuldade em terem um juízo final concreto… Nesta altura é dar a razão a um clube em detrimento de outro. Mas estamos a falar de recursos. Não quero arriscar dar uma opinião minha do foro que não domino. Há muita gente para esgrimir esses argumentos legais de uma ou outra parte. Para isso há os juristas.

      ZZ: A sua época acabou em Matosinhos, ao serviço do Leixões. O projeto não foi suficientemente atrativo para o convencer a ficar?


      FC: Nada tem a ver com isso. Tem a ver com o contrato de ano e meio que tinha com o Leixões. Projetei, incansavelmente, planificar tudo até ao último dia, que foi na quarta feira passada [27 de junho]. Havia negociações, que a administração estava a par. Nunca escondi isso. Comuniquei isso ao presidente Paulo Lopo. O Leixões é uma equipa que está a ter uma subida em termos de organização e a prova evidente é que, de anos de sobrevivência na última jornada passou a um ano em que sonhou, com estabilidade. Este ano, também devido à massa adepta exigente, era necessário fazer uma equipa consentânea com os pergaminhos do clube. E com objetivos ambiciosos. Vínhamos a fazer esse trabalho. Mas depois de uma conversa franca, e tenho de agradecer publicamente a compreensão do presidente Paulo Lopo e da administração no sentido de me libertar para um projeto que era inadiável e irrecusável. Foi uma saída a bem.

      ZZ: Ainda há o sonho de voltar à Liga?

      FC: Não é sonho. Vai acontecer no momento em que tiver de acontecer.

      ZZ: É um objetivo?

      FC: Sinceramente, não é um objetivo. Estou agora numa Primeira Liga. Sou o único treinador em Portugal que treinou todas as divisões. Desde a formação, Primeira distrital, Divisão de Honra Distrital, III Divisão, II Divisão, II Divisão B, II Liga, I liga… O futuro a Deus pertence. Sou um treinador do mundo. Se não tiver de voltar é porque há bons motivos para isso. Se tiver de voltar é porque há bons motivos para isso. Nós não mandamos em nós, não escolhemos. Na maior parte das vezes, somos escolhidos. E o futuro faz-se trabalhando no presente.

      «Fui escolhido devido à minha característica de lançar jovens»

      ZZ: Agora, abraça a primeira experiência no estrangeiro, aos 54 anos. Havia a vontade de emigrar?

      FC: O futebol é uma profissão do mundo. Temos [treinadores] de estar prontos para o mundo. Não tenho problemas em trabalhar seja onde for. Gosto é trabalhar onde sinta que sou tremendamente desejado, onde apresentam um projeto com seriedade, e depois decido. Fosse onde fosse. Chegou a hora, foi agora a primeira vez. E quem sabe se é uma porta aberta para desenvolver o meu trabalho além-fronteiras.

      ZZ: Qual é o objetivo no Paradou?

      FC: O Paradou, e a maior parte dos clubes da Primeira Liga da Argélia, vão-se socorrendo de técnicos estrangeiros e pela primeira vez têm um português. E o Paradou é denominado o clube da formação na Argélia. É o primeiro clube que tem academia própria e fiquei surpreendido pela positiva. Pelo modelo de gestão do clube também. O presidente, que são dois irmãos, têm uma ligação ao futebol muito forte. A academia tem condições extraordinárias, condições que muitos clubes da nossa Liga não têm. E têm uma preocupação pedagógica a nível da formação. Há salas de lazer para todos os jogadores, uma alimentação e refeitório próprios. É verdadeiramente um centro de estágio. Segundo o presidente me disse, fui escolhido devido à minha característica de lançar jovens, que eles estudaram, e à capacidade de fazer bons trabalhos com orçamentos mais baixos. Acredito que o treinador que fosse para o Paradou teria de ter essa capacidade formativa, de dar uma noção tática e física ao futebol argelino. E não tenhamos dúvidas que a nossa nacionalidade já representa um cartão de visita. Ser treinador português já é um cartaz e ganhámos a luta de concurso com treinadores franceses, espanhóis…. É um clube dos mais organizados, economicamente, da Argélia. Se tivermos de checar o projeto a abraçar, todos os pontos tiveram o pico de assertivo para tal.  

      ZZ: Já esteve na Argélia: qual foi o primeiro impacto com o país?

      FC: Não me falem que há muito trânsito em Portugal, porque não há [risos]. É uma saturação tremenda. Tenho um chauffeur para não me desgastar nesse aspeto. Uma deslocação de 25 km pode demorar hora e meia. De resto, as pessoas são afáveis, há uma gentileza própria deles. Não é uma sociedade tão fechada como pensamos. Mas as 48h que estive lá foram aproveitadas para fazer trabalho e não conheço nada a não ser do hotel para o centro de treinos. Mas as primeiras impressões são muito positivas.

      ZZ: Quer levar jogadores portugueses para a sua equipa?

      FC: Vou eu e mais dois adjuntos: o professor Miguel França e o professor André Mota. O professor Miguel França já foi comigo e já ficou lá para desenvolver o trabalho. É uma particularidade de três elementos da equipa técnica serem portugueses e mais três elementos argelinos e uma equipa clínica com dois médicos, dois fisioterapeutas e um massagista. Na própria academia há 14 administrativos: manager, diretor técnico, secretário técnico, elementos de coordenação. O contacto foi muito positivo. É o plantel mais jovem da Argélia porque todos os jogadores militam na formação. Em termos de contratações, não há qualquer tipo de impedimento tirando isto: primeiro, só há duas vagas para estrangeiros e não podem ser guarda-redes; segundo, não pode ter idade superior a 27 anos e por último tem de ter internacionalizações sub-20 pelo seu país. São esses os requisitos, mas pode acontecer [levar portugueses].

      Portugal
      Francisco Chaló
      NomeFrancisco Alexandre Lacerda Chaló
      Nascimento/Idade1964-02-10(60 anos)
      Nacionalidade
      Portugal
      Portugal
      FunçãoTreinador

      Fotografias(39)

      Liga 2 SABSEG: Trofense x Leixões
      Liga 2 SABSEG: Rio Ave x Trofense

      Comentários

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      motivo:
      TA
      Chaló- entrevista
      2018-07-05 19h06m por Tantoscasos
      Muito bom trabalho, zerozero. Boa entrevista.
      MA
      boa entrevista
      2018-07-05 18h57m por machete
      mt bem zerozero parabens
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