Uma novela longa, que não durou necessariamente muito tempo, e que atingiu o seu limite, com um dos episódios mais tristes da história do futebol português: o dia em que um grupo de trabalho de uma das maiores instituições desportivas portuguesas foi atacado por um grupo restrito dos seus adeptos.
O dia 15 de maio foi longo, mas nem por isso se pode falar numa novela de apenas um longo capítulo. A história tem vários e o primeiro...dos últimos aconteceu depois de uma derrota europeia, com o presidente a abrir um precedente no que ao trato com os jogadores diz respeito.
Apesar ter pautado o seu registo por exigência máxima para com o grupo de trabalho que defendia as cores do Sporting, Bruno de Carvalho abriu um precedente no final da partida de Madrid. O Sporting perdeu 2x0, deixando uma imagem de alguns erros e uma falha clamorosa de finalização no último minuto. O presidente leonino achou aquilo pouco desculpável e utilizou o seu Facebook para tecer críticas coletivas e individuais.
O universo sportinguista não reagiu bem e as notícias de instabilidade em Alvalade começaram a surgir, poucos dias antes da receção ao Paços de Ferreira, numa altura em que a equipa leonina sonhava ainda com o título. Tudo acabou bem, o Sporting ganhou, mas os sinais davam conta de uma massa, ou pelo menos a sua maioria, ao lado do grupo de trabalho e de costas voltadas para o presidente, que saiu...a mancar.
Ainda assim, a ferida estava aberta: a radicalização de posições invadiu Alvalade e os jogadores lamentaram publicamente a «ausência de apoio daquele que devia ser o nosso líder». Sinais preocupantes, no mínimo, com o presidente a confirmar a existência de processos disciplinares.
Pese o ambiente negativo, o balneário do Sporting manteve-se irredutível no que à unidade e à solidariedade diz respeito. As palavras de Jorge Jesus destacavam um coletivo forte, ciente da responsabilidade de defender um bem maior.
A equipa continuou a dar boas respostas em campo, conseguindo mesmo a aproximação e ultrapassagem ao Benfica no segundo lugar do campeonato e a passagem à final da Taça de Portugal, depois de nova vitória diante do FC Porto nas grandes penalidades.
Com o empate em Alvalade, diante do Benfica, o Sporting sabia que teria de fazer igual ou melhor do que o rival da Segunda Circular na última jornada para garantir o segundo lugar e a consequente participação nas eliminatórias de Liga dos Campeões. Na Madeira, o Leão não foi feliz e o terceiro lugar foi o resultado para uma derrota que custou caro.
A contestação nos Barreiros foi audível, com os adeptos a pedirem explicações para o desaire da equipa de Jesus. Bruno de Carvalho não perdeu tempo e convocou reunião de emergência com as diferentes partes do grupo de trabalho. Falou-se em suspenção para Jesus, mas o presidente, à saída do encontro, rejeitou qualquer tipo de divórcio, garantindo ainda as condições para que a equipa competisse no Jamor.
E eis que chegamos ao tal dia 15 de maio de 2018, um dos mais negros da história do Sporting Clube de Portugal. Se o dia começou com a oficialização do Sporting de que Jesus ia orientar a equipa na final da Taça de Portugal, a tarde trouxe para o conhecimento público as agressões a boa parte do staff leonino, com Bas Dost a ser a imagem do surrealismo de Alcochete.
A crónica e a cronologia de tempos difíceis em Alvalade, com um final trágico a marcar semanas de desavença e posições extremadas. O nome de uma das maiores instituições desportivas em Portugal está agora irremediavelmente manchado, dias antes da decisão da Prova Rainha do futebol português.