O OC Barcelos vai disputar no próximo fim de semana a final-four da Taça CERS em Lleida. Um momento importante para o clube e para o hóquei em patins português, uma vez que a turma barcelense vai tentar levantar o troféu pela terceira temporada consecutiva.
Em 2015/2016, em Barcelos, a formação minhota, na altura orientada por Paulo Freitas, venceu a competição pela segunda vez na sua história ao derrotar na final o Vilafranca por 6x3. Na época passada, em Itália, o OC Barcelos, comandado por Paulo Pereira, repetiu a proeza ao vencer no jogo decisivo o Viareggio por 4x2.
Luís Querido, agora a representar o Amatori Lodi, era o capitão do OC Barcelos nas duas conquistas europeias supra-citadas. Ao zerozero.pt, o hoquista com ligações muito fortes ao clube minhoto, conta o modo como foram vividas as duas final-fours. Um testemunho escrito pelo próprio para o zerozero.pt e que será dividido em duas partes, a primeira sobre a final-four de Barcelos e a segunda de Viareggio.
«Quando me pedem para descrever como foi vencer as Taças CERS, não sei bem por onde começar porque naqueles dois fins de semana vivi coisas inesquecíveis.
Lembro-me que estávamos em Candelária, domingo de manhã a tomar pequeno-almoço depois de termos perdido 5X2 no dia anterior, e recebemos a notícia de que a Taça CERS seria jogada em Barcelos, na nossa catedral. Foi inevitável naquele momento não nos passar pela cabeça coisas como “se ganhamos a cidade vai estar ao rubro“, “imaginem bem a festa depois do jogo“... Tudo isto é normal imaginar, mas ainda faltavam três semanas e a ansiedade para que aquele fim de semana chegasse era muita. Na semana que antecipava o jogo, lembro-me que todos os dias havia jornalistas no pavilhão, havia sempre entrevistas para dar e coisas para fazer. Nós continuávamos o nosso trabalho, focados no Matera e cientes da dificuldade que íamos ter. Terminou a semana de trabalho e fomos para Esposende, era lá que estávamos hospedados em estágio, a 15 minutos de Barcelos.
Sexta feira passou depressa. Estava no quarto com o Jokinha, cometemos o erro de jantar demasiado, ao que juntando a ansiedade pelo dia a seguir, não conseguíamos dormir e adormecemos já perto da 1h30 da manhã. O dia a seguir já foi diferente. Acorda-se com aquele nervosinho miudinho e as horas que antecedem a saída para o jogo são longas. Chegou a hora da partida para o pavilhão... esperávamos algo dos nossos adeptos, mas não aquilo que encontrámos! De Esposende até Barcelos havia faixas e tarjas de apoio em tudo o que era rotunda ou pontes. Logo ali ficámos satisfeitos e felizes por sentir que era algo importante para toda a cidade e que estavam a sentir o dia tal como nós. Mas o mais incrível que já vivi ainda estava por chegar. A polícia fez-nos escolta policial porque era altura de festas em Barcelos e os caminhos para o pavilhão eram complicados. Na última rotunda a caminho do pavilhão já víamos pessoas com cachecóis e bandeiras, mas quando chegámos à avenida do pavilhão, aquilo que os nosso adeptos criaram, aquele ambiente, aquelas cores em todas as esquinas, gente a saltar na frente do autocarro, cânticos que deixavam a pele de galinha a qualquer um... foi o momento mais emotivo que vivi até hoje no hóquei em patins! Inesquecível.
Quando chegámos ao hotel não nos deixaram ver a outra meia-final. Vimos que o Sporting e o Vilafranca estavam a jogar o prolongamento. Sabíamos que o Vilafranca tinha muita qualidade mas não esperávamos que o Sporting não passa-se. Mas assim foi. Ali já estava o aviso de que no dia a seguir as coisas iam ser duras mas tínhamos a oportunidade das nossas vidas para conquistar uma Taça CERS para a nossa cidade e para o nosso currículo. E assim foi! Acordei super tranquilo e com uma enorme confiança. Não me passava pela cabeça um resultado que não fosse a vitória. Fomos jogar um pouco de snooker, ou fazer de conta, no fim do pequeno-almoço e lá estávamos nós, não todos mas os que estavam sossegados e com as pilhas recarregadas para o jogo, a comentar movimentações dos adversários e cuidados que se havia de ter. Isto tudo enquanto o Jokinha já só se imaginava com a taça na mão!! Foi bonito aquele fim de semana...
Antes do jogo, mais uma vez, os nossos adeptos estavam em número para nos ver chegar, para nos apoiar e fazer-nos sentir que estava toda uma cidade connosco. Contado ninguém consegue imaginar o que aquilo foi...
Chegou a hora do jogo, começámos a perder por duas vezes e na segunda parte, depois do golo, ficámos reduzidos a três. Foi ali que se ganhou aquele jogo. Aguentámos com três sem sofrer golo e pouco depois da entrada do nosso quarto jogador fizemos o golo do empate. Crescemos e os espanhóis sentiram isso. Ganhámos de forma justa.
Naquele dia a cidade parou. Saímos do pavilhão em cima do camião dos bombeiros e demos voltas à cidade em forma de agradecimento aos adeptos que nos seguiram sempre até ao fim e olha que a festa foi até de manhã!
Como disse antes, foi um fim de semana inesquecível! É uma CERS que me vai marcar para sempre...
No ano a seguir fizemos o bi em Itália, em casa do adversário...»
Nos próximos dias, Luís Querido volta a escrever em primeira mão para o zerozero.pt sobre a conquista da Taça CERS em Itália, na época passada.