Tornar difícil o que estava à mão de semear. O Sporting passou ao lado de uma eliminação surpreendente na República Checa, graças a um golo de Rodrigo Battaglia no prolongamento. Os leões perderam por 2x1, mas depois do sofrimento em Plzen a derrota é definitivamente o mal menor. Agora é esquecer este jogo cinzento e pensar nos quartos de final da Liga Europa.
À sombra de uma eliminatória bem encaminhada, o Sporting sacou dos manuais de auto-sofrimento e aplicou a regra básica: dar vida ao “morto”, neste caso aos checos. A palavra milagre, tenuemente verbalizada por Pavel Vrba na véspera, ganhou todo um outro eco logo aos seis minutos, quando de uma falha de comunicação entre André Pinto e Rui Patrício nasceu o primeiro golo do Viktoria Plzen.
Um golo, também ele, saído do manual que Jorge Jesus tinha lido, nem 24 horas antes, em conversa com os jornalistas: jogo direto e áereo do conjunto da casa. O cruzamento de Jan Kovarik sobrevoou tudo e todos e Fábio Coentrão não teve impulso – nem centímetros – para impedir o cabeceamento de Marek Bakos. O resultado foi o pior cenário que os leões podiam imaginar, a desvantagem madrugadora.
Com o Viktoria Plzen à distância de um golo para empatar a eliminatória, o Sporting precisava de estabilizar e impor o melhor futebol sobre os checos; uma teoria que caiu largamente num imenso buraco negro, porque à parte da relva que transformava passes em pulgas saltitonas, o jogo verde e branco também não era aroma que se cheirasse.
E depois havia o físico, que os intérpretes do Viktoria Plzen não se coibiam de usar, numa agressividade legal e saudável que ia dando vida a uma equipa renascida, quase sempre ganhadora nos duelos individuais; também porque Petrovic era «peixe fora de água» na missão de substituir William Carvalho, raramente solução e quase sempre problema nas tarefas defensivas do Sporting.
À frente, dois cruzamentos demasiado largos para um impotente Bas Dost e uma bola de golo que Bryan Ruiz atirou ao lado (39’) eram os sinais de vida de um leão que não parecia disposto a “matar” as esperanças legítimas dos checos. E que as coisas não iam bem percebeu-se logo no arranque da segunda parte, quando Bruno Fernandes deu uma bronca a Battaglia por (mais) uma decisão infeliz na ligação ofensiva.
Um safanão do médio português que parecia ter resultado, porque logo depois (49') o Sporting esteve quase a selar a eliminatória, mas o primeiro remate de Acuña esbarrou no poste e o segundo saiu por cima. O «quentinho» do balneário parecia ter ajudado os leões a ganhar conforto num jogo em que nunca se sentiram... confortáveis.
Mas o castigo para o leão implicava horas extras, de tal forma que nem a mais soberana das ocasiões para «escapar» por um triz à eliminação foi aproveitada. Bas Dost, em cima do minuto 90, bateu mal, muito mal, a grande penalidade concedida pelo árbitro alemão, e que Bruno Fernandes tenha atirado incrivelmente por cima na recarga também já não era de admirar.
A cumprir horas extra por culpa própria, o Sporting lá acabou por ter cabeça suficiente para não sair humilhado de Plzen. Já se jogava a compensação da primeira parte do prolongamento quando Battaglia ganhou de cabeça na sequência de um canto de Bruno Fernandes e fez o tão valioso golo que deu o apuramento. Até porque ficavam a faltar dois golos aos checos, que se despediram com brio mas sem milagre.