Domingo de manhã acordo ávido de curiosidade para consultar as capas dos jornais e ver os mais rasgados elogios à exibição e à proeza do meu clube, que tinha acabado de infligir a primeira derrota no campeonato ao campeão em título.
Pura ilusão minha.
Tanto os jornais desportivos, como os generalistas, como todos os restantes meios de comunicação social não exaltaram qualquer mérito à vitória do Boavista, o Benfica é que perdeu.
Contra quem? Não interessa.
Por incrível que pareça, se alguém lesse ou ouvisse as notícias nos dias seguintes, não percebia contra quem tinha jogado o Benfica.
Em todos os programas desportivos dos principais canais de televisão o diapasão manteve-se, com a honrosa exceção de Miguel Guedes.
Falou-se sobre a crise do Benfica, sobre a aposta no Varela e no Filipe Augusto, sobre a política de contratações do Benfica, mas nunca sobre o Boavista.
Infelizmente, este é o resultado da comunicação social que temos, subserviente e dependente dos interesses destes clubes e que acentua a cada dia que passa os desequilíbrios do futebol português.
À semelhança do Boavista tivemos, esta semana, o Braga que, após uma magnífica vitória na Alemanha, foi completamente esquecido no dia seguinte.
Quem não se recorda da vitória do Moreirense na Taça da Liga e das capas de jornal no dia seguinte?
Os discursos polidos dos diretores de jornais em defesa dos «interesses» do futebol português não passam de autênticas hipocrisias de pessoas que já há muito tempo esqueceram os princípios base do jornalismo.
Contrariando um pouco esta tendência venho aqui exaltar os méritos do Boavista e desta vitória em particular.
O Boavista vinha mergulhado numa profunda crise de resultados (1 vitória e 4 derrotas) e tinha acabado de substituir o seu treinador a apenas dois dias do jogo.
Saiu Miguel Leal, profundamente desgastado nas últimas semanas, e entrou Jorge Simão, afastado dos relvados desde a sua última experiência no Braga.
Miguel Leal fez um belíssimo trabalho no Boavista na época passada e os adeptos reconhecem-no de forma unânime, pelo que será bem-vindo no Bessa pelo profissionalismo e simpatia que sempre demonstrou.
Rei Morto, Rei Posto.
Jorge Simão é, desde 6ª feira, o «melhor treinador do mundo» para todos nós adeptos e contará com o nosso apoio incondicional de ora em diante.
Na sua conferência de imprensa de apresentação – aberta aos adeptos – mostrou ter refletido e aprendido com alguns erros do passado e garantiu que não iria promover alterações para o jogo do dia seguinte.
Sobre o jogo em si, a minha visão é a seguinte:
A primeira parte foi muito fraca. Gilson e Idris parecem ser incompatíveis numa equipa que pretenda ter uma construção de jogo competente. Jorge Simão entendeu isso e substituiu ao intervalo Gilson por David Simão, o que acabou por alterar completamente a forma de jogar do Boavista.
Não só esta substituição acrescentou valor em campo, como os próprios jogadores que estavam sub-rendimento na primeira parte (Idris e Rossi por exemplo) melhoraram consideravelmente na segunda parte.
Isto quer dizer que o treinador foi capaz não só de fazer uma leitura tática correta como de abanar o balneário, promovendo melhorias de desempenho dos jogadores, e isso é algo que já não tínhamos há muito tempo. Esta característica é fundamental num treinador que queira fazer do seu campo uma fortaleza, e Jorge Simão parece tê-la.
Outra coisa que me agradou foi o seu discurso no final, por ter reconhecido o trabalho do treinador antecessor e por ter sido capaz de dizer que a equipa não esteve bem na primeira parte, apesar de termos vencido.
A exigência e a capacidade de superação devem ser apreendidas e assimiladas pelos nossos treinadores e jogadores, porque essas são as principais marcas do ADN Boavista.
Felizes com o resultado, não devemos cair em ilusões.
Há ainda muito trabalho pela frente.