Depois de uma experiência além-fronteiras, Mário Jardel está de volta ao futebol português. Podíamos escrever isto em 2001, quando o ídolo do FC Porto ingressou no Sporting, ou em 2006, quando o mesmo assinou pelo Beira-Mar. Mas agora, em 2017, de quem falamos é de Mário Jardel Júnior, filho do antigo goleador.
Como não podia deixar de ser, é na frente de ataque que tenta ganhar nome. Deu os primeiros passos no desporto em Lisboa, entre os escalões de formação de Sporting e Estoril, teve uma passagem pelo Dramático de Cascais e decidiu ir tentar a sorte no desporto universitário dos Estados Unidos: no soccer, como lhe chamam por lá.
Chamada para cá, chamada para lá, e surgiu a oportunidade de Mário Jardel mostrar o que vale no Leça, um emblema histórico do norte que anda agora pelas distritais.
Sábado foi dia de receção ao Pedrouços, para a Taça da AF Porto, e o zerozero quis ver o que conseguia fazer aos 20 anos este jovem de nome ilustre.
E que melhor companhia podíamos pedir do que a de Super Mário, o pai, aquele que por mais de 200 vezes fez balançar as redes rivais ao serviço de clubes portugueses?
Acompanhado também da família mais próxima, foi com o olhar fixo no filho que seguiu o encontro, tirando o tempo que ia dedicando à nossa conversa. Ao intervalo, e depois de uma primeira parte sem golos e com oportunidades quase nulas para o júnior, vinha o primeiro balanço.
«Um jogo morno, não é? O jogo é sempre melhor quando tem golos, e eu fico à espera do golo do meu filho. Quando acabar o jogo espero dar-lhe algumas instruções, como sempre dou, de como pode melhorar dentro e fora de campo».
«É a primeira vez que o vejo jogar pessoalmente desde que saiu da equipa de Cascais. Normalmente dou-lhe sorte para fazer golos. Espero que na segunda parte ele fique mais centrado na área. Ele tem tocado na bola e tem esperado, mas tem de tocar dentro da área, para ser uma referência dentro da área. Era assim que eu fazia os golos e é assim que acho que ele vai fazer».
«Ele tem uns pezinhos muito melhores do que os meus. Também cabeceia bem, desvia bem. Acho que lhe faltam alguns ajustes, mas de certeza que pode vir a tornar-se num grande jogador».
No futebol, o pai é a referência. Não haveria outra hipótese, já que falamos de um jogador unanimemente considerado um dos grandes pontas-de-lança do futebol português e vencedor de duas Botas de Ouro da UEFA.«Com certeza eu sou o ídolo dele e ele é o meu ídolo. Independentemente de ele acertar ou não, vou estar a apoiar».
E como é o júnior como filho? «Espetacular. Sem palavras. É presente, conversamos bastante, e espero que ele me dê muitas alegrias dentro e fora de campo. Se é diferente de mim? Se for diferente para melhor, é bom. Sempre para melhor».
Por esta altura, aproxima-se o arranque da segunda metade do encontro. Jardel Júnior mantém-se no onze, esperando uma segunda parte com mais oportunidades para mostrar que tem o mesmo sangue de goleador nas veias.
«Acho que ele é um jogador com personalidade. Entrou um pouco tarde no futebol, já era para estar numa equipa da primeira divisão, mas eu acredito que vai chegar a sua hora», indica um pai convicto.
O golo, para já, tardava, mas o jovem avançado ia demonstrando uma outra qualidade, extra-futebol: a de elemento apaziguador. Numa altura em que o jogo se tornava mais quente, com desentendimentos entre jogadores e palavras menos agradáveis trocadas, era Jardel quem ia muitas vezes colocar água na fervura.
«Ele é muito tranquilo, não gosta de confusão, gosta de orientar as coisas...», explica o pai. «Mas eu gosto é que ele faça golos. É o que vale no futebol».
Palavras de quem sabe do que fala. Já nas decisões a nível de carreira, a autonomia do júnior é total, garante, embora com palpites de pai ocasionais.
«As escolhas são dele, sempre na direção de um bom caminho. Dentro de campo, dou o meu palpite, com a experiência que vivi. Ele já vem provando que é bom jogador, fez golos em jogos-treino... espero que comece com o pé direito fazendo golo hoje. Se ficará em Portugal? Há um objetivo de vida, seja em Portugal, no Brasil, em Inglaterra, qualquer outro lugar... ele tem que focar naquilo que quer, e se é isto que ele quer, que vá atrás».
Fazemos nós o trabalho de casa: Mário Jardel, o pai, disputou dois encontros no Estádio do Leça com a camisola do FC Porto. No primeiro um golo, no segundo um bis. Na missão de se aproximar dos feitos do pai, o jovem Mário tem uma montanha para escalar.