Bruno Oliveira é atualmente treinador adjunto do novo campeão do Catar, o Lekhwiya, mas a sua carreira já passou por outros países e outros clubes, sendo que no passado do técnico de 38 anos já passou outro clube que acabou por ser campeão, o Leicester City.
Esteve no clube na temporada 2010/2011, na altura para ser adjunto de Paulo Sousa numa equipa com jogadores como Ricardo, Miguel Vítor ou Moreno e no momento de mudança de proprietários do clube. Bruno Oliveira contou ao zerozero o que levou o Leicester ao título de campeão inglês.
Passou por Inglaterra, treinou QPR, Swansea e Leicester City. É inevitável falarmos do Leicester tendo em conta o campeonato do ano passado. Como é que vê esse vitória, tendo em conta que ainda treinou dois jogadores que foram campeões [Andy King e Jeffrey Schlupp]?
«Em primeiro foi uma grande surpresa, obviamente. Nem eles esperavam que pudesse acontecer e eu ainda menos, até porque conheço bem a estrutura do clube, sei bem as pessoas que trabalham no clube, a nível de estrutura técnica, dirigentes. Cheguei no ano de transição, em que o presidente era o Milan Mandaric que vendeu o clube a meio da época aos tailandeses que estão agora como presidentes, e notei logo que eles eram muito apaixonados pelo futebol, que eram pessoas sérias, via-se nitidamente que eram pessoas que iam melhorar o clube e foi isso que aconteceu».
«Têm uma fan base muito forte, que gostam mesmo do clube, e esse apoio foi fundamental. E têm um entusiasmo muito grande. Conseguiram criar um momentum que lhes permitiu seguir com aqueles resultados positivos e, quem conhece o futebol inglês sabe, que quando começas numa dinâmica de resultados positivos quase que vais ganhando naturalmente, às vezes até sem explicação, como foi conhecendo este ano com o Chelsea, porque o futebol em Inglaterra é muito de paixão, menos tático, é com o coração. Eles ganharam o título porque nisso são os mais fortes. Grande dedicação, grande coração, grande entusiasmo dos jogadores. O próprio Andy King, que era o meu capitão no ano em que lá estive, era um jogador normal mas que no contexto são jogadores que se transcendem».
Após a sua saída do Leicester City, Bruno Oliveira esteve na China onde treinou o Guizhou Rene. Conhecedor da cultura chinesa e da sua forma de ver futebol, o técnico contou-nos as mudanças que tem sentido num país com uma aposta cada vez mais vincada no futebol.
Recuando um pouco no tempo: passou pelo futebol chinês, que tem apostado forte no mercado em nomes consagrados, como os casos de Hulk e Óscar, por exemplo. Como vê esta transformação do futebol asiático, que antigamente era mais ligado a jogadores em final da carreira?
«Isto é um sinal claro de que a China quer passar a ideia que veio para ficar, veio para apostar forte e a sério. Não é apenas um cemitério de jogadores, nem quer ter jogadores apenas em final de carreira, para dar nome à liga, não. Querem ter os melhores, sejam eles novos ou velhos, experientes ou inexperientes, independentemente da nacionalidade, é uma aposta clara na qualidade. Depois tendo os meios financeiros que têm, quase sem limites, é uma aposta do país, pelo próprio presidente. É um adepto fervoroso de futebol e está a apostar no futebol como veículo para melhorar a imagem do país, de gerar interesse pelo país e de criar uma liga forte que permita, ao mesmo tempo, criar interesse no futebol, que não é muito atualmente».
«A China tem biliões de população mas tem grandes entraves. A cultura do futebol não existe e na China os casais só podem ter um filho. Essa condicionante leva a que eles se dirijam mais para os desportos individuais e não haja uma cultura de desporto coletivo, e é isso que também se está a tentar mudar com a criação de escolas de formação desde os cinco, seis anos. Mesmo na escola, o futebol passou a fazer parte do currículo de Educação Física e o presidente também está a mudar isso».
«Daí eu achar que a China vai ser uma grande potência a nível futebolístico. Números não faltam mas faltava este investimento de criar uma cultura a nível do futebol e esse estímulo está a existir, inclusive de um português, que é o Figo, que tem dezenas de academias pelo país. Com a chegada destes nomes sonantes eles vão com certeza crescer e isso vai ser visível nos próximos dez, vinte anos. Vai aparecer uma geração de chineses com grande qualidade, como têm por exemplo os japoneses e os coreanos».
Podendo ultrapassar o Japão e a Coreia?
«Sim, claramente. Tenho a certeza disso, vão demorar uns anos mas vão ultrapassar».