moumu 26-04-2024, 03:12
Estreou-se há pouco mais de um ano numa das principais Ligas do mundo, a Bundesliga. Assumiu então o comando técnico do Hoffenheim numa altura em que a queda à segunda divisão era um «fantasma» de contornos bem definidos (penúltimo lugar, a seis pontos da salvação) e logrou a missão da manutenção. Hoje está na luta por um lugar na Liga dos Campeões da próxima época.
A ascensão a pulso de Julian Nagelsmann no panorama do futebol alemão e europeu seria já de si notável, mas o técnico natural da região de Munique fê-lo com um dado ainda mais impactante: aos 28 anos de idade, ocupando assim o topo da lista dos treinadores mais novos de sempre a chegar à Bundesliga.E foi poucas semanas depois de completar um ano desde que se deu a conhecer que Julian Nagelsmann falou em exclusivo ao zerozero. O jovem, agora com 29 anos, confessou que «ninguém podia imaginar que as coisas se desenvolvem-se tão bem» desde que foi convidado a suceder a Markus Gisdol e admitiu sem problemas que o atual 4º lugar também se deve ao facto «de várias equipas que habitualmente jogam pelos primeiros lugares não terem conseguido encontrar o seu caminho esta época.»
Nesta entrevista ao nosso jornal, Nagelsmann falou também de José Mourinho e do feito dos treinadores portugueses, para além de deixar palavras de admiração para o trabalho da seleção nacional portuguesa. Tudo para ler em baixo.
zerozero: Dos zero aos 100, ou algo parecido. Como é que viveu o último ano?
Julian Nagelsmann: Que as coisas estejam a desenvolver-se como até agora é algo que ninguém podia prever. No entanto, tinha a convicção quando assumi a equipa que poderíamos jogar melhor futebol do que o lugar que ocupávamos na altura traduzia. E isso, há um ano, foi uma situação bastante desafiadora. Hoje, as coisas são bem mais confortáveis apesar de também sentirmos pressão – uma pressão positiva. Mas a chave para o nosso sucesso está no trabalho como equipa. Todos no clube, desde a equipa técnica à administração do futebol, passando pela chefia e, claro, pelos nossos jogadores, todos puxam para o mesmo lado.
ZZ: Você acabou de ser eleito o Treinador do Ano na Alemanha, à frente de nomes como Pep Guardiola ou Thomas Tuchel, por exemplo. Apesar de passar uma imagem bastante humilde, acredito que um prémio destes faça bem ao ego, ou não?
JN: Deixa-me orgulhoso. Mas como disse nessa gala e ainda há pouco na primeira resposta, não fiz nem faço nada disto sozinho, há outros que fazem parte; e sem eles o sucesso não seria possível. Mas obviamente que o prémio é um incentivo para continuar a trabalhar no duro.
ZZ: Porque é que na época passada o Hoffenheim jogou pela manutenção e esta temporada está em lugares de acesso à Liga dos Campeões? O que é que você mudou?
JN: O que nos caracteriza esta época é a estabilidade e a constância. Para além disso, procuro transmitir aos meus jogadores, à parte do trabalho minucioso, a alegria e a diversão que eu próprio sinto quando venho para o trabalho todas as manhãs. Mas há outra coisa que não podemos esquecer. Algumas das equipas que nos últimos anos estiveram quase sempre de forma bastante fiável nos primeiros lugares não foram capazes de encontrar esse nível esta época, e isso também contribui para o nosso lugar na classificação.
ZZ: «Baby Mourinho». Em Inglaterra não se perdeu tempo a fazer manchetes com este rótulo. Agrada-lhe?
JN: Essa alcunha foi-me dada há uns anos pelo Tim Wiese, antigo internacional alemão e que na altura estava aqui no Hoffenheim. José Mourinho é um treinador de topo. Apesar de termos filosofias de jogo distintas, ser comparado a um treinador tão experiente e tão bem sucedido naturalmente que não me incomoda. Mas deixe-me dizer que já deixei para trás a idade para ser bebé...
ZZ: E já que falamos de treinadores portugueses, que opinião é que tem deles? Mourinho, Leonardo Jardim, Fernando Santos, André Villas-Boas...
JN: Sem sombra de dúvida que o futebol português tem sido capaz de produzir treinadores que gozam de uma reputação extraordinária. E para além disso têm conseguido afirmar-se com sucesso nos palcos do futebol internacional.
ZZ: Sabemos que o futebol português não goza propriamente de um grande interesse junto dos adeptos alemães. Como é que avalia os clubes portugueses?
JN: Queria, antes de mais, mencionar a seleção portuguesa. Com as suas individualidades extraordinárias, pertence há várias décadas ao lote das melhores da Europa, e o título conquistado no Euro 2016 é o melhor exemplo disso. E isso acaba naturalmente por deixar marcas nos clubes, onde se trabalha de forma precisa para transformar jovens talentos em jogadores de topo.