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    Entrevista a Afonso Figueiredo

    Emigrou para brilhar como Guerreiro, foi travado pelo sonho que caiu pelo Rio abaixo

    Foi em alta que Afonso Figueiredo acabou a época passada, no Boavista. Com convites interessantes (pode saber mais sobre o do Benfica aqui), o lateral escolheu França. Melhorar o jogo físico, ter melhores condições e perseguir sonhos, como qualquer jogador, foram as suas premissas. Só que a aventura não começou bem, com o clube a rejeitar a sua ida aos Jogos Olímpicos, no Rio de Janeiro.

    Afonso não caiu, mas foi-se abaixo e é o primeiro a reconhecê-lo. Numa entrevista sem complexos ao zerozero, o português de 23 anos fala de uma França com mais respeito pelo jogador português depois do Euro, mas com algum défice no tratamento. Disse apreciar a forma como o franzino Raphaël Guerreiro se destacou em terras gaulesas e nomeou Romeu como o treinador que melhor o influenciou, após uma formação no Sporting interrompida abruptamente.

    As dificuldades e a amargura

    A entrevista teve que ser a esta hora porque a seguir vais ter aulas de francês... Que nova realidade é essa em França?
    Não tem sido fácil, não tem sido nada fácil também pela língua. Não perceber o que as pessoas dizem e não conseguir falar é desde logo um entrave, mas tenho estado a aprender aos poucos.

    Achavas que ia ser mais fácil?
    Sinceramente, achei, por diversas razões. A nível de futebol, não pensaria que a língua ia ser o mais importante, pois joguei com vários colegas estrangeiros e isso era um pormenor. Agora, em termos de lidar com os colegas no balneário, falar com o treinador, tudo isso ajuda muito na integração. Sempre fui um jogador de brincar muito no balneário e aqui não tenho esse à-vontade. Faz-me alguma confusão, mas estou a habituar.

    Sentes-te peixe fora da água, é isso?
    Sim, mesmo nos treinos é diferente. O Boavista não tem metade das condições de trabalho que aqui tenho e nem eu esperava que o Rennes tivesse todas estas condições. Admito que cheguei um pouco admirado com isto tudo. Estava a voltar de lesão, fui debelando isso com o tempo e a minha maior vitória até agora foi treinar sem dores. Andei com dores quase toda a época passada e agora consegui finalmente não as ter.

    É por causa de todas essas mutações que têm existido que ainda não te vimos jogar pelo Rennes?
    [Pausa] Falo por mim... Podemos arranjar vários motivos, mas da minha parte sei que atrasou um pouco o facto de ter chegado com lesão. Se bem que, a meu ver, algo fundamental e que mexeu muito comigo foi os Jogos Olímpicos. Era um dos meus grandes objetivos da época passada e, na altura em que veio a convocatória, não pude ir. Psicologicamente, mexeu comigo, pois sabia que era uma oportunidade única na minha vida e custou-me um bocado não ter ido. Fui-me um bocado abaixo, mentalmente, e é também isso que estou a tentar recuperar neste momento, a minha confiança e capacidade mental. As razões são essas: estou a melhorar fisicamente e a tentar ter a cabeça o mais forte possível para uma entrada forte, quando chegar a oportunidade.

    Como decorreu esse processo de convocatória para os Jogos?
    O clube recebeu a convocatória e eu, logo quando assinei, tive a conversa com o presidente, onde ele me disse que ia ser difícil ir aos Jogos. Sabia desse risco, só que a questão é que não fui aos Jogos, mas também não estou a jogar. Isso é que mexeu um pouco com a minha cabeça. Fico feliz por ter sido chamado, fiquei triste pela oportunidade que me fugiu, mas isso agora é passado.

    Sentes que isso pode ter consequências futuras para ti?
    Mesmo o clube, acho que teria a ganhar com a minha ida aos Jogos, porque ia perder uma jornada de campeonato. E não é só isso, eu ia representar o meu país, ia elevar a minha confiança e, muito provavelmente, voltar muito mais forte ao clube. A seleção é o sonho de qualquer um e eu, ainda por cima, só tinha tido essa oportunidade aos 23 anos, que foi quando me estreei na seleção olímpica [em jogo de preparação]. Admito que isso mexeu muito comigo.

    ©Arquivo pessoal do jogador

    Ressaca controlada

    Como sentes que está a tua cabeça nesta altura?
    É um processo novo na minha vida, estou a tentar adaptar-me a esta nova realidade, mas começo a achar que em todos os sítios por onde passo nunca consigo convencer de início. Só depois, quando surge a minha oportunidade, é que embalo. No Boavista também foi assim: esperei o momento, afirmei-me e ganhei o meu estatuto no clube. Vinha com expectativas altas, de dar continuidade ao que vinha fazendo em Portugal, mas é tudo uma questão de oportunidade.

    Achas que essa oportunidade surgirá a curto prazo ou terás que ser paciente?
    Sinceramente, acho que terei que ser paciente. Aqui, o Rennes tem um nível de qualidade altíssimo de jogadores e, normalmente, um treinador muda a equipa quando ela não está bem. Felizmente ela está bem, tem jogadores de qualidade e não é fácil. Estou preparado para jogar a qualquer altura, mas não sei quando isso será. Tenho feito alguns jogos na equipa B para ganhar ritmo. Não conto que isso aconteça, mas se a oportunidade não surgir, em janeiro terei que ver melhor a situação.

    Muito diretamente... estás arrependido?
    Não posso dizer que estou, pois dei um passo gigante na minha carreira, em termos do que tenho para a minha vida. Não estou arrependido disso. Se calhar, estou arrependido de certas escolhas que fiz. Tinha muitas ofertas no verão e depois ficamos sempre a pensar o que teria sido se fizéssemos outras escolhas. Mas não posso dizer que estou arrependido, tenho um contrato de quatro anos, que é bom e que me coloca numa liga muito competitiva. Só que o jogador é feliz quando joga e eu não vou ficar agarrado a um contrato. Quero jogar, tenho qualidade para isso e continuo a ter objetivos, como a seleção. No Boavista, sabia que era difícil chegar à seleção, por isso também esta escolha, num campeonato onde pudesse ser visto de outra forma.

    ©Alberto Fernandes

    À procura de se afirmar no país físico

    Como vês França em termos sociais?
    Vou-te ser sincero. A nível de pessoas, são um povo mais frio do que nós, apesar de aqui ter muitos portugueses e que me receberam muito bem: vieram logo falar comigo e ajudaram com a casa e outras coisas, pois aqui há muitos e com o nosso espírito característico de ajudar. Senti-me bem recebido, embora não pelo povo francês.

    E em termos futebolísticos?
    Acho que são muito mais intensos, pelo menos em relação ao que estava habituado. Trabalham muito, são muito físicos e muito fortes, o que foi uma das razões para a minha vinda para cá, pois queria evoluir no aspeto físico numa liga onde isso se notasse mais. Ainda que, em termos técnicos, em Portugal há mais do que aqui

    Essas diferenças do físico e da técnica resultaram bem com o Raphaël Guerreiro...
    Quando vim, pensei em muita coisa. Pensei em Moutinho, Coentrão, Bernardo Silva, Guerreiro, que tiveram sucesso aqui e com características parecidas com as minhas. O Raphaël é um bom exemplo e são esses que eu quero seguir.

    Não estavas antes, mas sentes impacto no tratamento aos portugueses depois da conquista do Euro?
    Tenho um colega aqui e falo mais pelo que ele me diz. Acho que agora nos respeitam mais. Noto que têm respeito, mas ao mesmo tempo algo entalado pelo que se passou.

    ©Vítor Parente

    A formação e a «reação Romeu»

    Sentes que fizeste o trajeto certo e que não deixaste nada por fazer?
    Sim, todos os passos que eu dei acho que foram bem dados, mas sem dúvida que o facto de ter passado seis anos no Sporting numa geração como a minha, com João Mário, Esgaio, etc, me fez evoluir muito. E, acima de tudo, o grande passo foi a minha saída do Sporting.

    Porquê?
    Porque tive que reagir a uma grande desilusão. Saí quando menos esperava. Todos os anos nós esperávamos e calculávamos os que iam ser dispensados ou não, e eu até tinha sido um jogador muito influente naquela época, tinha jogado sempre. Nunca esperei ser dispensado e, depois de lá passar seis anos, achei que não me deram o devido valor. A minha reação a isso foi, a meu ver, o passo mais importante.

    Ficou alguma mágoa?
    A formação que o Sporting dá a um jogador e o contributo que isso tem para o futebol português... Sem dúvida que só tenho a agradecer ao Sporting por tudo que aprendi.

    Que reação foi essa?
    Fiquei perto de casa, decidi ir para o Belenenses e tive a sorte de ter um treinador que é o Romeu, atual adjunto do Rui Jorge, que, além de me ajudar em termos de futebol, me ensinou muito como homem. Meteu-me os pés na terra, o que é importante para um miúdo de 17 anos, fez-me ver o futebol da melhor forma para ter sucesso. A partir do momento em que comecei a encaixar tudo o que ele disse, a reação apareceu. Foi, sem dúvida, o treinador mais importante que tive.

    Portugal
    Afonso Figueiredo
    NomeAfonso Mendes Ribeiro de Figueiredo
    Nascimento/Idade1993-01-06(31 anos)
    Nacionalidade
    Portugal
    Portugal
    PosiçãoDefesa (Defesa Esquerdo)

    Fotografias(96)

    Comentários

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    motivo:
    LU
    Português nunca se vai abaixo!
    2016-09-30 14h20m por luiserra
    Pode ser que as coisas mudem, se ele treinar e mostrar o seu profissionalismo, vai correr bem. Na pior das hipóteses ele volta para o campeonato português (ou outro campeonato europeu), por empréstimo numa equipa que lhe garanta mais hipóteses de jogar. Infelizmente não vi jogos deste jogador para ter uma opinião fundamentada, mas se o Rennes o contratou é por que viu nele potencial. Não se pode ir abaixo em momento algum!
    IS
    Grande jogador
    2016-09-29 23h08m por Isentoqb
    São jogadores com este discurso que merecem respeito. Sem nunca criticar por onde passou e agradecendo as oportunidades. Acho que teria a ganhar muito mais se ficasse mais uma época no Boavista, mas com grandes ofertas é difícil de recusar. Espero sinceramente que venha a ter sorte, porque é daqueles jogadores que merece.
    Afonso Figueiredo
    2016-09-29 23h06m por yousandro
    Foi para o Rennes para brilhar mas ainda nem sequer jogou, é uma pena.
    PS: O Pedro Mendes e o Mexer são os centrais titulares desta equipa

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