É difícil definir o médio português, mas não deixa de ser interessante e curioso analisar a disparidade existente entre Portugal e Espanha. E é também revelador de muito o facto de o atleta ter rumado ao Barcelona por tão considerável quantia.
Por Portugal, analisando comentários ou redes sociais, rapidamente se percebe que esta não é uma transferência compreendida por considerável parte dos seguidores do futebol, quer pelos valores envolvidos (o Barcelona pagar 35 milhões de euros no imediato e mais 20 por objetivos), quer pelo destino - os catalães são das melhores equipas do século XXI, com uma temível frente de ataque, composta por Messi, Suárez e Neymar.
Portugueses no Barcelona
— playmakerstats (@playmaker_PT) 22 de julho de 2016
Mendonça (66-69)
Figo (95-00)
Baía, Couto (96-98)
Simão (99-01)
Quaresma (04)
Deco (04-08)
Ié (15)
A. GOMES
Por Espanha, passeando pela imprensa, o ponto que parece mais relevante é o duelo Real Madrid - Barcelona que os culés ganharam: a comunicação social de Madrid diz que tal se concretizou porque os blancos desistiram atempadamente, a da Catalunha fala de astúcia dos blaugrana.
Poucos se pronunciam sobre os valores envolvidos, já que, em boa verdade, André Gomes é um atleta com um futebol apreciado no país vizinho. E a explicação talvez esteja em questões de conforto tático.
Analisemos então essa vertente. Quando o jogador apareceu no Benfica, em 2012/2013, o 4x4x2 era a matriz de Jorge Jesus. Matic e Enzo Pérez potenciavam uma dupla que muito agradou aos adeptos, só que o argentino lesionou-se e proporcionou ao português o surgimento em grandes palcos, isto depois de ter entrado a todo o gás, com dois golos nos dois primeiros jogos.
O primeiro grande teste surgiu em... Camp Nou. André Gomes jogou 90 minutos frente ao Barcelona, num 0x0 insuficiente para as águias seguirem em frente na Liga dos Campeões. Cinco dias depois, alinhava novamente todo o tempo na vitória das águias em Alvalade por 1x3. Só que o regresso de Enzo tiraria protagonismo ao jogador, que, ainda assim, continuava a ser escolha recorrente.
A ida para o Valencia resolveu esse problema. Num 4x3x3 muito mais à sua medida, no qual atuava muitas vezes como o jogador mais livre da equipa de Nuno Espírito Santo, o jogador pôde elevar muito mais o seu futebol, sem tantas limitações defensivas e com muito mais liberdade para ser o estratega.
Não é de estranhar que os adeptos do Valencia o adorem, como foi claramente explícito numa reportagem feita pelo zerozero na cidade espanhola. E também não é de admirar que seja tão cobiçado em Espanha, onde é muito mais associado a esse cenário tático.
Um desenho que voltou a fugir da sua órbita na recente participação no Europeu. Fernando Santos apresentava a equipa em 4x1x3x2 e, apesar de ser um dos criativos (do lado esquerdo), o médio não conseguiu mostrar a sua melhor face, igualmente porque a liberdade não era tanta - e as tarefas defensivas eram maiores, para proporcionar uma maior liberdade a Cristiano Ronaldo.Fora da sua zona de conforto, o jogador acabou por perder o lugar para Renato Sanches (que, apesar de ter estado bem, também mostrou algumas dificuldades de adaptação à função).
No Barcelona, voltará a ser o 4x3x3 o desenho apresentado. Onde André Gomes encaixará? Muito provavelmente, será um competidor com Rakitic pela terceira vaga de um meio-campo onde Busquets e Iniesta são indiscutíveis.
Mas, acima de tudo, poderá ficar novamente confortável com uma equipa que usa e abusa da posse de bola. Sendo André Gomes um jogador muito melhor com do que sem bola, este pode ser um cenário perfeito para que haja unanimidade em relação à apreciação do jogador.