Fugindo (dentro do possível) da tradicional vedeta, Casillas fez-se lenda, ganhou respeito, foi glorificado (outras vezes crucificado) mas manteve sempre a classe; fosse no momento de glória suprema, como naquele dia em que ergueu alto a décima Champions do Real Madrid na final da Luz, fosse nos "frangos" que ele, tal como todos os outros, estão sujeitos quando a sua missão é entregar-se à defesa das redes.
E esse teu ar grave e sério / Dum rosto e cantaria / Que nos oculta o mistério / Dessa luz bela e sombria
Quando Carlos Tê e Rui Veloso escreveram e deram a conhecer ao mundo o "Porto Sentido", Iker estava longe de imaginar que a composição serviria 'que nem uma luva' para memorizar a 'serenata' à chuva que deu no sempre escaldante Benfica e FC Porto, um clássico como na literatura.
Na iguaria das defesas, Iker defendeu tudo que havia para defender. Ok, em bom rigor, só lhe faltou travar aquele remate de Mitroglou, aos 18 minutos. O niño prodigio do madridismo (como muitos ainda o tratam do outro lado da fronteira) encheu a baliza. E quando foi preciso, estava lá.
Na capital deste Portugal, o FC Porto jogava debaixo de uma nuvem de ansiedade. A temperatura, escaldante de emoção, numa sexta com frio de rachar, viu Iker abrir bem abertas (perdoem a redundância) os braços.
A reportagem gravou o seu nome para memória futura. Aqui, alí, acolá. Do outro lado da fronteira, voltaram a falar de Iker.
"O Santo Iker num recital de defesas", diziam na Marca, enquanto que o AS escrevia que "Casillas vestiu-se de herói para dar a vitória ao FC Porto".
Clichés à parte, o que Iker fez, esta sexta-feira, mais não foi do que mostrar que, como se diz em bom português, "quem sabe nunca esquece". Voltou a levantar as mãos para mostrar o que melhor sabe - defender; como fazia quando, ainda rapaz, começou a brilhar pelo Real.
Esta sexta-feira, voltou a ser San Iker, se é que alguma vez deixou de o ser...