Antes da paragem para as seleções, o Fenerbahçe perdeu o primeiro lugar da liga turca, agora ocupado pelo Besiktas, de Quaresma. Um empate caseiro contra o Akhisar precipitou uma onda negativa que já se começava a formar.
No fundo, a vida não está fácil para o técnico natural de Espinho. Em si foi depositado um projeto ambicioso, no ano em que o Fener regressou às competições europeias, depois de dois anos suspenso.
Ismail Kartal tinha ficado no segundo lugar e, portanto, saiu. Vítor Pereira assumiu e, para si, a direção assegurou nomes de peso, como Simon Kjær, Nani ou Van Persie, tal como os seus conhecidos Souza, Fabiano e Abdoulaye.
Só que a época não começou bem. O primeiro grande objetivo era a entrada na Liga dos Campeões. Um objetivo que esbarrou em Donetsk (3x0). Uma eliminação que, sendo a primeira prova de fogo do técnico, não deixou de significar uma má primeira impressão.
qFicaria preocupado era se ele não ficasse triste por ficar de fora. A mim compete-me tomar decisões, gerir a condição física, percebendo que jogámos na quinta-feira e o jogo de hoje ia exigir muito
Vítor Pereira, a 21 de setembro
Entretanto, a equipa conseguiu a entrada na fase de grupos da Liga Europa e começou bem o campeonato. Só que, ao segundo grande teste, caiu na casa do Besiktas (3x2). Isto já depois da humilhante derrota caseira por 1x3 frente ao Molde.
Tudo somado, e juntando-lhe a decisão de deixar Van Persie no banco em metade das partidas, faz com que, nesta altura, a vida do técnico não corra de feição.
Um técnico «peculiar»
O zerozero.pt, no sentido de perceber melhor qual a visão turca sobre o tema, contactou Onur Dinçer, jornalista do Milliyet, um dos principais diários da Turquia, que confirmou que o cenário não é, por esta altura, o melhor.
qPereira não é, com certeza, um mestre da motivação com os seus jogadores
Onur Dinçer, jornalista do Milliyet
«Criou dúvidas sobre si mesmo à conta das escolhas dos jogadores. Não consegue escolher o melhor onze. Tem pouca participação no jogo e a ler o que vai acontecendo. Não é, com certeza, um mestre da motivação com os seus jogadores. Ainda não correspondeu à alta expectativa sobre o ramo tático que dele se esperava, pois não atina com o onze e às vezes muda peças logo aos 30 minutos», de forma crua e dura, foi a visão inicial que nos foi transmitida.
«Ainda assim, acho que lhe deve ser dado mais tempo, pois é novo aqui e tem uma equipa nova. Só que, para isso, tem que começar a acertar com a definição da equipa. E, claro, repensar a situação de Van Persie, que, ao ficar no banco com a equipa sem ter resultados, dá má imagem ao treinador».
A margem de manobra para o português continua a existir, é certo, mas os anti-corpos também se vão vendo.
Portugueses na Turquia são muitos, no clube também, mas o maior, nesta altura, é mesmo o técnico: «Ele é muito mediático, especialmente por causa do seu discurso irónico no fim dos jogos. É inteligente e bem-humorado, é um treinador peculiar», admitiu, ainda que tal não seja necessariamente um bom pronúncio.
Portugueses caem pouco no goto
Onur Dinçer é jornalista no Milliyet ©Onur Dinçer
O primeiro grande surto de jogadores lusos a rumar, de forma mais mediática, ao futebol turco, aconteceu entre 2010 e 2011, altura em que o Besiktas adquiriu nomes como Hugo Almeida, Simão Sabrosa, Ricardo Quaresma ou Manuel Fernandes.
Um conjunto que não correspondeu em títulos (apenas ganhou uma Taça), e que, segundo o nosso entrevistado, foram várias vezes associados a indisciplina pelas saídas noturnas. Uma imagem que, ao que parece, ainda perdura.
Quaresma foi, desses, o mais mediático. Os adeptos não o esqueceram e, nos tempos do FC porto, pediam com insistência o seu regresso. Um regresso que aconteceu, mas que, até agora, não tem correspondido ao que se esperava.
«Quaresma já não é o jogador de outros tempos. Já não mexe com os adeptos como antes. Parece que está a fazer a sua última época este ano», contou-nos Onur, que depois passou para a análise de outros lusos na Turquia. A começar por Nani... uma espécie de Quaresma.
Primeira grande fornada lusa foi em 2011 ©Catarina Morais
«É o jogador com maior proveito de entre os novos rostos aqui na Turquia. Marca e assiste. Mas os adeptos têm medo que ele se torne num novo Quaresma, que é alguém conhecido aqui como um jogador instável, capaz de fazer um grande jogo e de andar três jogos desaparecido. Há esse medo com Nani, apesar de gostarem dele».
Bruno Alves «agrada» pela forma «dura e aguerrida» com que se costuma apresentar em campo, ainda que, por vezes, seja «algo lento». Meireles é o que maior «simpatia» reúne, pelo seu estilo extravagante, perdendo apenas pela sua «debilidade física», pois «está algumas vezes lesionado».
Além destes, existem outras duas caras que, não sendo portuguesas, derivam do nosso futebol, ambos por empréstimo do FC Porto: «Abdoulaye Ba ainda ninguém percebeu que tipo de jogador é, pois lesionou-se logo. O Fabiano não dá confiança aos adeptos, que preferem o Demirel como primeira escolha».
Turquia procura voltar a encontrar-se
Tempos de Rustu, Bulent, Basturk ou Sukur já lá vão... ©Getty / Martin Rose
Se os lusos em solo turco não criam a melhor impressão, o futebol daquele país também não está no seu melhor momento.
«O futebol turco não atravessa o seu melhor período, que foi no início do milénio, com a conquista da Taça UEFA pelo Galatasaray (2000) e pela ida às meias-finais do Mundial 2002. Estamos distantes disso neste momento. Os nossos jogadores mais conhecidos são Arda Turan e Çalhanoglu. Sempre produzimos jogadores que se destacam tecnicamente, mas aos quais falta o lado tático do jogo. O futebol alemão está no topo, nesta altura, e isso é um bom sinal para nós, pois existem vários milhões de turcos a viver em solo germânico. Isso é bom, desde que não façam como o Özil ou o Gündogan, que escolheram jogar pela Alemanha. Mas, no que diz respeito às receitas televisivas, aos estádios (muitos estão agora a ser inaugurados), a infra-estruturas, o nosso futebol está a evoluir», explicou-nos Onur.