A vontade de ser jogador de futebol e ganhar um lugar de destaque nesse meio é um objetivo comum a muitos jovens. No entanto, nem todos conseguem e, acima de tudo, a maior parte não tem noção dos sacrifícios pelos quais pode ter que passar para conseguir chegar ao tão sonhado fim. O zerozero.pt pôs-se em campo e dá-lhe a conhecer a história de um futebolista que começou a carreira quando era ainda uma criança e, hoje, tem já um percurso internacional.
Nascido no Algarve, aos dez anos de idade já Diogo Viana (atualmente no Litex Lovech) jogava no Esperança de Lagos e era observado por águias e leões. «Sei que o Sporting foi ver um jogo em que marquei três golos e, na hora, falaram logo com os meus pais para ver se era possível ir para lá, neste caso nos infantis», recorda. Naquele tempo, os mais novos não podiam, ainda, permanecer na Academia leonina, o que fazia com que o jogador tivesse que trabalhar no emblema da sua terra natal. «Treinava no meu clube e ia só aos fins de semana, com mais três ou quatro colegas que também eram do Algarve, para jogar pelo Sporting. No ano seguinte é que entrei na Academia, onde depois estive sete anos», explica Diogo.Tudo começou ainda em tenra idade com a paixão pelo desporto-rei. «Sempre gostei muito de futebol e decidi que poderia dar alguma coisa, ser profissional de futebol, nomeadamente quando fui para o Sporting», conta o futebolista.
Quando uma criança tem o gosto pelo futebol e quer realmente segui-lo como profissão, o apoio da família é um ponto-chave para o sucesso: «Nunca se opuseram e muito menos pensaram sequer em não me deixar ir». Ainda assim, nem tudo é fácil. «Claro que ficaram tristes por se separar de mim [só se viam aos fins de semana], principalmente a minha mãe, mas nunca me 'cortaram as pernas' porque sabiam que era uma coisa que queria muito e que era um sonho que eu ambicionava», defende o avançado.De facto, a distância de casa é o que mais custa à maioria dos jovens futebolistas que têm que deixar o lar para lutar pelo seu sonho. Na Academia, «davam-me todas as condições para crescer e para trabalhar bem, não me faltava absolutamente nada. Tinha comida, roupa lavada, jogava futebol, que era o que eu mais queria, e tinha lá os meus melhores amigos. Tinha ali tudo, a família estar longe era o mais difícil», relembra Diogo.
Nem tudo é 'um mar de rosas' e, a par da família, há outros sacrifícios que as jovens promessas têm que fazer: «Deixei os meus amigos todos para trás, deixei a minha infância e os meus pais. Se tive que abdicar de alguma coisa, foi isso, mas o não vejo como abdicar de algo porque sempre quis jogar à bola e ser profissional de futebol e, então, fiz tudo isso por gosto», reitera o jogador.
Quando começou a dar nas vistas, Diogo Viana mudou-se para o Norte, numa troca envolvida na transferência de Hélder Postiga. «A transição do Sporting para o FC Porto foi feita com muita tranquilidade porque já tinha 17 anos, era praticamente um homem. Tinha muitos amigos também no FC Porto, que me ajudaram na integração muito facilmente, e transferi-me de um clube grande para outro grande», relata o avançado. Para além dos pormenores espaciais que podem distinguir a forma como os dois clubes fazem a formação dos jovens (os leões concentram tudo num mesmo espaço, enquanto os dragões têm o alojamento no Porto e o centro de treinos no Olival), há outros aspetos que se destacam. «A única diferença que eu sentia é que o Sporting forma jogadores para chegarem à equipa principal, para tentar rentabilizar o clube e o próprio jogador. O FC Porto tem uma cultura ganhadora, uma cultura em que, seja em que escalão for, entra para ganhar. Foi essa a grande diferença da cultura que eu senti», ressalva Diogo.Viver longe de casa desde os dez anos de idade permitiu ao português uma adaptação mais fácil quando o FC Porto o emprestou ao VVV-Venlo, da Holanda: «Já estava habituado porque toda a minha vida vivi praticamente sozinho e longe dos meus pais», diz.
Quando se persegue o sonho de ser futebolista há vários fatores a ter em consideração, entre os quais o elevado «espírito de sacrifício». É preciso «ter força interior para conseguir lidar com as adversidades, porque o futebol não é só ter qualidade, ter técnica, no futebol tem que ter-se muita sorte», avisa Diogo Viana. «Eu creio que sou forte mentalmente e psicologicamente porque separei-me dos meus pais com dez anos, tive que crescer muito mais rápido do que os meus colegas, que uma criança normal de dez anos. Acho que, no futebol, para vencer, ser feliz e ter sorte é preciso um grande espírito de sacrifício», conclui o avançado português.
Às crianças e jovens que agora começam a aventurar-se no mundo do futebol, Diogo Viana deixa algumas dicas: «O conselho que dou é que com o trabalho e com o esforço de cada jogador e, principalmente, com a crença de nunca desistir, podem alcançar o futebol profissional.» Para o atleta, o segredo está em «trabalhar sempre no máximo, independentemente de jogar ou não jogar, dar sempre o máximo. Porque, se perguntarem à maior parte dos jogadores de futebol, há muitos que com dez, 12, 13 anos têm mais qualidade, mas quando chegam à idade de seniores com 17, 18 anos, já não se nota tanto a diferença» e, aí, há a possibilidade de passar «a ter mais qualidade que o rapaz que, há três anos atrás, tapava o lugar».Com um percurso pautado pela distância da família desde muito novo, Diogo Viana, hoje na Bulgária, aponta a chave para vingar neste mundo: «Nunca desistir».