Férias já não são apenas sinónimo de excessos. É nesse período que os jogadores procuram recuperar as energias de uma época longa e intensa, mas é igualmente nessa altura que começam a preparar a temporada seguinte. Os clubes, por norma, entregam na partida para as férias um plano que os atletas têm que cumprir, mas os próprios jogadores por vezes vão mais longe e começam a preparar-se individualmente com o intuito de chegar bem ao começo dos trabalhos. Afinal, é na pré-época que tudo se começa a desenhar e a definir lugares nas equipas.
Afonso Figueiredo, lateral-esquerdo do Boavista, foi um dos jogadores que se preparou com afinco para se apresentar a um bom nível na pré-época. Com a ajuda de João Mendes, ex-colega nos juvenis do Belenenses e agora personal trainer, o futebolista axadrezado aproveitou parte das férias para recuperar a forma e garante que a aposta foi totalmente ganha.
«Antes de irmos de férias dão-nos sempre um plano com o que é suposto fazermos. Normalmente, temos 15 dias em que precisamos de descansar, não fazer nada, e foi o que optei por fazer. Depois disso, comecei a ativar o corpo para a pré-época. O que procuro fazer todas as pré-épocas é um plano progressivo para depois não sentir tantas dificuldades. As dores que sentimos sempre no início dos trabalhos no clube, procuro provocá-las mais cedo», afirmou, ao zerozero.pt, Afonso Figueiredo.
Afonso Figueiredo - Jogador Profissional do Boavista FCDe férias... mas a pensar no começo da pré-época!Gavazzo Trainer
Posted by Gavazzo Trainer on Domingo, 28 de Junho de 2015
«Este ano tive a colaboração de um colega meu, que jogou comigo no Belenenses e que agora é personal trainer. Ajudou-me muito com exercícios específicos relacionados com futebol e que não são tão chatos como os exercícios mais físicos da pré-época. A verdade é que a pré-época é uma altura muito importante do ano, é onde se pode ganhar lugares na equipa e se chegarmos fisicamente bem, melhor», comentou.
Afonso Figueiredo é um dos muitos casos de jogadores que se preparam antes da época começar. Além do jogador do Boavista, o zerozero.pt também acompanhou Matheus Pereira, futebolista que pertence aos quadros do Sporting e que procurou manter-se em forma durante as férias. O brasileiro de 19 anos, na altura com expectativas de se mostrar ao novo treinador, Jorge Jesus, rumou ao norte do país e encontrou em Esposende o local ideal para se preparar.
Américo Magalhães, treinador que em parceria com dois empresários brasileiros desenvolveu um estágio de três semanas para futebolistas, foi o responsável pela preparação de Matheus Pereira. O atleta do Sporting esteve integrado num grupo composto por 12 futebolistas. «Este género de estágios é muito positivo para os jogadores porque quem estiver melhor fisicamente vai conseguir aplicar as suas capacidades e assim render mais nos clubes. Normalmente, o trabalho que fazemos é mais geral porque nesta altura trabalha-se do geral para o específico», explicou, dando a conhecer o processo de treino por que os atletas passaram.
Em comparação com outros tempos, os jogadores estão hoje mais familiarizados e interessados nos métodos que têm à disposição para conseguirem ter um melhor rendimento durante uma época desportiva. Para os ajudar, há um mundo que tem vindo a crescer a olhos vistos e que é composto por profissionais especializados em alto rendimento desportivo que procuram junto dos atletas ajudá-los a atingir o máximo das suas capacidades.
Empresas como a ROPE (Reabilitação e Otimização de Performance) ou a Training4performance são cada vez mais procuradas pelos atletas de alta competição – não só futebolistas – e visam a prevenção e reabilitação para que seja conseguida uma otimização da performance atlética. Para tal, são criados programas de força e condição física específicos para cada atleta. No fundo, em conjunto com diferentes especialidades – nutrição, fisioterapia, osteopatia, massagem desportiva, treino visual funcional, entre outras - o objetivo passa por potenciar todas as capacidades atléticas de um jogador.
«Em termos desportivos, os jogadores têm uma vitalidade muito maior agora do que tinham há uns anos, mas também têm responsabilidades acrescidas em termos de manutenção. O mais difícil não é chegar ao topo, mas sim manter-se lá. Por isso, os clubes e os jogadores têm uma mentalidade completamente diferente da que tinham antes, em que pensavam que a prevenção de lesões se baseava apenas em comer e dormir bem. O dormir bem é um critério de extrema importância e é uma espécie de segundo treino, porque um indivíduo só treina bem se dormir bem. Isso é indiscutível. Aliás, se não tivermos uma qualidade de sono adequada, o restabelecimento físico fica aquém do desejado. Mas com o decorrer do tempo as exigências desportivas são diferentes. Agora há uma noção maior de medidas que podem alterar a performance atlética e com isso conseguir outros voos», explicou André Lobo, destacando a motivação que cada atleta deve ter.
«A motivação é o primeiro elemento que nos faz transcender em termos de suporte atlético. Fazer 50 jogos numa época, como acontece em alta competição, é extremamente complicado em termos fisiológicos e ao nível das exigências atléticas, mas a motivação é importante porque permite que haja um equilíbrio emocional. Sem ele, o jogador nunca conseguirá ultrapassar todas as etapas para chegar ao topo», disse, explicando a visão que existe atualmente dos jogadores por parte dos departamentos clínicos.
Após 2meses de recuperação, sinto-me na máxima força e totalmente recuperado. um muito OBRIGADO a toda a equipa ROPE
Posted by Nuno A Coelho on Quarta-feira, 22 de Julho de 2015
«É importante ver como um indivíduo coloca o pé quando faz corrida, como os oculomotores funcionam, ou seja, o facto de ter uma visão periférica ou de profundidade também pode influenciar a parte das tonicidades musculares. Hoje em dia, encaramos o atleta de uma forma neurossensorial, o que quer dizer que abordamos vários aspetos. Se o indivíduo tiver alterações da parte ocular, o corpo vai torcer um bocadinho mais. Se o corpo torcer um bocadinho mais, há músculos que vão entrar em maior sobrecarga do que outros e então haverá uma maior predisposição para a patologia, a lesão. A nossa preocupação é manter o indivíduo o mais equilibrado possível, de modo a que os próprios desequilíbrios que tem geneticamente, não interfiram na prática desportiva. Através de algumas técnicas em termos de trabalho ocular sabemos que o nosso corpo está dotado de sensores que vão fazer com que os nossos músculos, numa tarefa normal, tenham mais ou menos atividade. O que pretendemos é que em termos de repouso o indivíduo tenha menos tonicidade dessas cadeias musculares. Automaticamente, se temos um organismo que está em sobrecarga e se o sensor continua a dar uma informação de grande tensão, o indivíduo vai entrar em grande desgaste», comentou, explicando a importância da introdução do treino de força na preparação dos atletas.
«Os sensores são intrínsecos a cada um, mudam de jogador para jogador e a grande dificuldade é essa. Não há protocolos. O que num indivíduo resulta, noutro pode resultar», atirou.