Pinto da Costa: «Mourinho quis atingir Casillas mas o tiro saiu ao lado»

No dia de eleições na Liga de Clubes, Pinto da Costa espera ver Pedro Proença assumir a presidência, de modo a que se possa aumentar o prestígio do organismo e também do futebol português. Sobre Luís Duque, o presidente do FC Porto diz que ficou surpreendido com a recandidatura e revela que não foi ele quem arranjou os patrocínios para a primeira liga e para a Taça da Liga.

Numa extensa entrevista ao jornal O Jogo, Pinto da Costa comenta também o chumbo da proposta que visava o regresso do sorteio dos árbitros. O líder dos dragões admite que não é totalmente contra as nomeações, mas que não as vê com bons olhos por serem feitas pelo atual presidente do Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol, Vítor Pereira.

Sobre Casillas, Pinto da Costa diz que ele ganha o mesmo que Fabiano e Andrés Fernández juntos, mas que sem dúvida o prefere ter a ele na baliza do FC Porto do que os outros dois no plantel. Além disso, considera que as recentes declarações de Mourinho foram para atingir o ex-guardião do Real Madrid, mas que não tiveram qualquer efeito. E em relação a Maxi Pereira, diz-se um admirador do carácter do internacional uruguaio, especialmente por ter mantido a palavra de ir jogar para o Dragão, apesar de outras propostas que recebeu.

Quanto aos outros reforços, o presidente azul e branco diz que pagaram ao FC Porto por Imbula sem este ter chegado ao Dragão, que Óliver Torres gostaria de regressar aos azuis e brancos e que rejeitou uma proposta de 30 milhões de euros por Alex Sandro, lateral-esquerdo que vai renovar contrato antes do início do campeonato. Sobre Lucas Lima, apesar de já não ser uma prioridade, é um jogador que Pinto da Costa admite interessar a Lopetegui.

[Luís Duque era para um período de transição] «Eu estive sempre com Luís Duque naquilo para o qual ele foi convidado. A Liga estava num estado caótico depois da reeleição de Mário Figueiredo, após a qual, e convém não esquecer, o presidente do Benfica fez um apelo a todos os clubes para se unirem em torno de Mário Figueiredo. Nós não concordámos e partimos para um grupo de trabalho para tentar viabilizar e credibilizar a Liga, a que depois se juntou o Benfica, nomeadamente do Dr. Domingos Soares Oliveira. Quando estava tudo encaminhado, foi sugerido que precisávamos de um nome do futebol para seis meses, para aprovar os estatutos e fazer uma auditoria forense à gestão de Mário Figueiredo. O presidente do Benfica sugeriu o nome de Luís Duque, fez um telefonema, ele aceitou e eu estive de acordo. Mas o acordo era apenas para seis meses e ele até disse que não se podia comprometer mais tempo.»

[Surpreendido com recandidatura] «Surpreendidíssimo. Na véspera tinha dito que não concordaria sem falar com o FC Porto  até hoje nunca mais ouvi a voz dele. E o meu telefone está sempre ligado. Ele teve papel moderador dos grupos que já trabalhavam em vários dossiês. Depois apareceu como salvador da Liga, quando esta já estava no caminho certo. Foi conseguido o patrocínio da NOS pelo sr. Joaquim Oliveira e com os CTT a mesma coisa. Luís Duque limitou-se a assinar. Até lhe fica mal aproveitar-se disso porque teria conseguido com ele ou outro qualquer. Foi conseguido pelo grupo de trabalho e porque Joaquim Oliveira teve um papel decisivo. Parece-me também inconcebível querer defender-se um indivíduo que ostensivamente é uma afronta ao Sporting, porque é um ex-dirigente e até de sócio foi expulso. Mas atenção, nós não temos relações oficiais nem com o Sporting nem com o Benfica.»

[Considerações sobre Pedro Proença] «A minha grande esperança na vitória do Pedro Proença não é organizar nem arranjar dinheiro para a Liga. Até com um que nem sabia o que se passava nós arranjámos. O que precisamos é de alguém com assento na Federação, com prestígio e que esteja lá. O Pedro Proença tem o perfil certo para o futebol profissional e uma visão de negócio também para o futebol profissional, que não é o negócio do futebol amador que pertence à Federação. Pode ocupar qualquer lugar no futebol. É um homem do futebol, inatacável em termos de seriedade, não está hipotecado a nada nem a ninguém. A presidência da Federação não pode ser um objeto pessoal de poder nem um alvo. Mas tem de ser um homem do futebol. E o atual presidente é um homem do basquetebol, em que foi jogador, dirigente e presidente da Liga de basquetebol. Só aos cinquenta e tal é que apareceu no futebol. E precisamos é de espírito de missão e não de quem procura um lugar na UEFA, na FIFA ou no Vaticano.»

[Contra nomeações...de Vítor Pereira] «Se me disserem que as coisas são direitas e bem feitas, é óbvio que também não queremos sorteio. O treinador do Benfica diz que também não sorteia jogadores, mas, se tiver os resultados de Vítor Pereira, não volta a sortear nada, vai é para a rua. O Sr. Vítor Pereira faz coisas inexplicáveis. O António Salvador até sugeriu Marco Ferreira para a final da Taça, porque todos reconheciam ser um dos melhores. E Vítor Pereira aceitou e nomeou. Uma semana depois, desce de divisão e não se passa nada. E ele vai continuar a nomear? As pessoas não têm noção de que isto expõe ao ridículo o futebol português?»

[Tiros ao lado de Mourinho sobre Casillas] «Ele, que já foi considerado várias vezes o melhor do mundo, tem o melhor currículo, e com 34 anos pode jogar mais três ou quatro anos em grande nível, como aliás o Helton prova; ganha tanto como o Fabiano e o Andrés Fernández juntos. E eu pergunto o que qualquer clube do mundo preferirá: ter o Fabiano e o Andrés Fernández ou ter o Casillas? Eu entendi que era melhor ter o Casillas. Mourinho quis atingir Casillas, mas o tiro saiu errado, porque o FC Porto não paga nem um terço do ordenado. É o Real Madrid que paga.»

[Contratação de Maxi Pereira] «Eu aproveitei...Nunca pensei que o Benfica não renovasse com ele. Falaram-nos dele depois do campeonato terminar. E eu pensei que eram empresários a valorizá-lo, como acontece muitas vezes. O Antero Henrique falou com o empresário, e eu disse que era conversa e queriam era sacar mais algum ao Benfica. Mas, na semana da final da Taça da Liga disseram-nos que o Benfica nunca tinha falado de renovação ao Maxi e achei muito estranho. Depois, parece que lhe falaram na véspera da tal final, mas o empresário insistia que o jogador estava disponível e o FC Porto era a preferência. Então, mandei avançar. O Maxi disse logo que sim. Posteriormente, teve outras propostas, que só aumentaram a minha consideração por ele, pois manteve a palavra que deu ao FC Porto. Não era um objetivo de há três meses...»

«Sempre deu a ideia de grande carácter e disponibilidade. Foi muito bem recebido e, hoje, já é dos mais populares do grupo. Quando disse que vinha, sem termos nada assinado, não soube logo se devia acreditar. [Quando ele disse que vinha?] Na semana da Taça da Liga. Depois de termos perdido o Danilo para o Real, só com uma grande contratação, como o Maxi, poderíamos resolver.»

[Óliver oferecido no negócio de Jackson] «O Atlético de Madrid ofereceu-me o Óliver no negócio do Jackson, emprestado por dois anos, mas, depois, voltou atrás dizendo que o treinador não o dispensava. O treinador quer o Óliver lá, por isso, não pensamos nisso.»

[Já tentaram pagar por Imbula] «O que nos levou a fazer o contrato com Imbula foi o valor do jogador, a importância que o treinador lhe dava. E decisivo foi, sem termos o acordo fechado, que alguém até nos pagasse para desistirmos do jogador.»

[Interesse em Lucas Lima] «Esse sim, estivemos interessados. E até foi considerado indispensável, até termos Danilo e Imbula. Era uma necessidade primária. Neste momento já não é, mas gostaríamos de o ter.»

[Rafa interessou mas não pelo valor pedido] «Tivemos interesse efetivo no Rafa. Mas há que ser realista. Quando o SC Braga pediu dez milhões de euros por 50 por cento do passe do Rafa está a colocá-lo ao nível do Imbula e a um nível superior a de todos os outros, pois está a valorizá-lo em 20 milhões. Eu considero que ele tem futuro e sou apreciador das suas qualidades, mas repare que nos sub-21 nem foi titular. Se vale 20 milhões, se calhar o Gonçalo Paciência ou o Ricardo Pereira valem 25 milhões. E o Ivo Rodrigues valeria 20. Esses é que resolveram jogos. Valorizar um não titular em 20 milhões, não. Não vamos entrar em loucuras. (…) Comprar um suplente dos sub-21 por 20 milhões de euros não era disparate, era burrice.»

[Recusada oferta de 30 milhões por Alex Sandro] «(…) Tivemos uma proposta de 30 milhões de euros do Atlético de Madrid pelo Alex Sandro. Mas a cláusula é de 50 milhões e, por isso, não saiu. (…) Tem contrato e sabe que o FC Porto conta com ele. Eu deixo todos ir para Madrid, se todos os de Madrid que querem vir para o FC Porto também puderem vir. O Óliver queria vir, fala com o treinador quase todos os dias, não deixaram e ele não tem de ficar melindrado.»

[A torcer pelo sucesso de Quaresma] «Sou admirador de todos os jogadores do FC Porto quando dão tudo o que podem e sabem pelo clube. O Quaresma teve momentos de génio no FC Porto, mas não conseguiu aquela regularidade permanente que se exige a um jogador. Ninguém mandou embora o Quaresma. Ninguém. Ele mostrou vontade de ir para o Besiktas, chegámos a um acordo. Quando autorizámos, fizemos regressar ao Varela, que nem estava previsto, mas que o treinador já o ano passado queria. Tenho a certeza de que Quaresma leva boas recordações do FC Porto e o FC Porto fica com boas recordações do Quaresma. Não tenho dúvidas de que ele quer que o FC Porto continue a ganhar e ele não tem dúvidas que eu e todos nós queremos que ele triunfe, esteja onde estiver.»

[Movimentações de mercado] «Quando o FC Porto contratou Jankauskas, o presidente do Benfica disse não estar preocupado com isso, mas em ganhar lugares na Liga. Isso está escrito. Agora vejo o FC Porto e o Sporting a contratarem jogadores e o Benfica preocupado em manter as nomeações dos árbitros feitas pelo sr. Vítor Pereira. Se isso quer dizer alguma coisa...»

[Recandidatura] «Ainda não pensei nisso. Há tanta coisa para fazer ainda. Temos projetos para alargar o Museu e daqui por um mês estará concretizada a promessa de ter elevadores no estádio para as pessoas. Há tempo.»