Caro leitor, de seguida vamos falar-lhe do coração, agora que o tema volta ao topo da atualidade das notícias, face à contratação de Hassan (do Rio Ave para o Benfica) que estará dependente dos resultados médicos do egípcio. Perante isto, o zerozero.pt conversou com um antigo jogador dos encarnados e dos vilacondenses para perceber o que sente um jogador quando vê um amor ser barrado/questionado pelo órgão responsável por esse amor.
Mais do que um sonho, é um amor ritmado no pulsar de uma bola. O futebol, da rua aos grandes palcos, é todo ele movido pela paixão e crença de algo que não se consegue explicar.
O futebol vive cada vez mais de "mãos dadas" com a razão, tornando-se numa indústria. No entanto, a sua base será sempre a mesma, o amor que vive dentro do coração. É o amor que faz o adepto percorrer quilómetros atrás da sua equipa, que o faz chorar e sorrir de alegria ou tristeza. É verdade que o coração às vezes prega partidas e não acompanha à medida a ilusão. Umas vezes não há solução. Féher, Pavão, Puerta ou Marc-Vivien Foé, só para lembrar alguns, foram traídos em pleno relvado pela "máquina" e viram aí o seu apito final. Mas outros casos há de jogadores que têm mais sorte e continuam... uns a jogar e outros, mesmo não jogando, permancem por cá.
«É a pior lesão que podemos ter. Garanto-lhe», disse-nos o jovem Fábio que sofreu na pele o «medo e a angustia» de um mundo que «desaba». «É um sonho que se perde e tudo parece que acaba. Mas a vida continua e eu falo pela minha experiência.»
Se o problema que fez tremer a carreira de Gonçalo Paciência já passou, Fábio Faria convive todos os dias com a «dura» realidade de sofrer do coração. «Ainda hoje tenho de conviver com isto. Até lhe dou um exemplo, eu tenho que fazer certos exercícios físicos no curso que estou a tirar, para a vertente prática, e tenho sempre medo. O medo acompanha-me sempre. Mas a vida continua», contou-nos Fábio Faria, não negando que quando se recebe a notícia de que 'não dá para mais', se apanha «uma grande desilusão».
«O coração dói muito nesse momento. Eu apanhei alguns sustos mas pensei sempre que dava para continuar», recorda Fábio Faria que a 4 de fevereiro de 2012 perdeu os sentidos em pleno relvado com a camisola do Rio Ave (jogava por empréstimo do Benfica no emblema vilacondense).«Cheguei muitas vezes a questionar-me: 'porquê a mim?», perguntava Fábio Faria que, atualmente, frequenta um curso de Gestão Desportiva.
É certo que o futebol subtrai muitas vezes racionalidade em razão da emoção e do amor. Mas os jogadores não são máquinas, são homens de carne e osso. Tal como Fábio, há muitos outros casos (dos mais mediáticos ou menos conhecidos) de atletas que sofrem do coração e procuram não desistir imediatamente do sonho. Mas o conselho do antigo central do Benfica é elucidativo: «Não vale a pena arriscar. É melhor perder o sonho do futebol mas continuar por cá».
E é aí que entram os amigos... do coração. «São muito importantes, tal como a família para nos ajudar a ultrapassar a mágoa». É também nessa altura que se percebe que, apesar do futebol viver uma época em que tudo dá para comprar e vender, o amor pela bola nunca morre e a amizade é também tudo aquilo que as notas não conseguem comprar.