No momento em que Ricardo Soares optou por ir para Vizela, Bakero e Zamorano, primos em segundo grau, viram-se desafiados pela direção do FC Felgueiras 1932 para liderarem a equipa que milita na série B do Campeonato Nacional de Seniores. Conhecemo-los dos relvados, somam passagens por inúmeros clubes nacionais mas trocaram o equipamento de jogo pelo de treinador numa espécie de «missão» pelo clube da terra.
A sua experiência como jogadores profissionais foi um dos pontos que mais pesou na decisão dos dirigentes felgueirenses.
«A direção achou por bem dar-nos esse cargo de ajudar o Felgueiras até ao final da época a alcançar o seu objetivo, que é a manutenção», explica Bakero, com Zamorano a sublinhar as raízes que falaram mais alto: «Não podíamos virar as costas ao clube».
Mal aceitaram o cargo, deixaram os relvados: «Estamos, simplesmente, a liderar o grupo, achamos que não era justo treinarmos e jogarmos, era algo complicado perante o grupo de trabalho. Decidimos parar, dar oportunidade a outros», explica Bakero, algo que «não foi fácil» para Zamorano, que foi campeão pelo Trofense há poucos anos, quando o clube da Trofa sobe ao primeiro escalão do futebol português.«Chegar ao domingo e saber que não podemos contribuir e ajudar os nossos colegas... Às vezes dá vontade de entrar em campo», assume, entre sorrisos, corroborando, no entanto, a ideia de justiça que Bakero nos apresentou:
«Sabíamos que não podíamos orientar a equipa estando dentro dela. De fora temos uma perspetiva diferente. Não tendo experiência enquanto treinadores, mais dificuldades iríamos ter se estivéssemos dentro de campo».
Zamorano 4 títulos oficiais |
Zamorano considera o primo um «braço direito»: «Disse-lhe que seríamos um só treinador. Tentamos ouvir a opinião um do outro e chegar a um consenso. No caso de ela ser diferente então sigo mais a minha opinião», assume, entre sorrisos, apesar de garantir que tem havido «sempre um entendimento» entre os dois.
De facto, com dois jogos realizados enquanto misters, empate a zero contra o Ribeirão e triunfo sobre o Tirsense, as perspetivas são positivas: «Conseguimos empatar fora e ganhar em casa, o que nos dá uma margem bastante grande para a próxima fase em relação aos outros adversários».
Seja como for, o médio, que no final dos anos 90 e início de 2000 representou o Sevilla, considera que esta é uma profissão muito mais difícil que a de jogador.
«É muito mais fácil simplesmente treinar e jogar. Estar deste lado, ter que tomar decisões quando as coisas não estão bem é complicado e mais ainda porque fazemos parte do grupo».O mesmo considera Zamorano: «Dá mais dores de cabeça. Quando treinamos só pensamos nisso, no final vamos embora e voltamos no dia seguinte. Agora não. Enquanto líderes de uma equipa temos que estar preparados e resolver situações. Outras preocupações, outras obrigações, é necessária muito mais disponibilidade para ser treinador».
O FC Felgueiras 1932 terminou a primeira fase da série B do CNS no quarto lugar da tabela, com 33 pontos, ficando a seis do Famalicão e do Varzim, que garantiram a passagem ao play-off de promoção da prova. O Vizela, terceiro colocado, também chegou aos 39 pontos. Faltou pouco à equipa da terra do vinho verde, formada após uma série de problemas que assolaram o FC Felgueiras e que levaram mesmo à extinção do clube - que nos anos 90 até esteve no primeiro escalão do futebol nacional - para poder disputar a subida de divisão.
«Pelas condições que teve no início da época o Felgueiras fez um campeonato fantástico, conseguiu formar um grupo de trabalho fantástico, com jogadores com grande valor» e, frisa Bakero, incomparavelmente inferior, em termos de orçamento, com as três equipas que ficaram acima na tabela.
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Agora vem aí, começa, aliás, já no próximo fim de semana, a luta pela manutenção, «um campeonato difícil», como o prova a «época passada», lembra Bakero.
«Na minha opinião o formato do campeonato não tem muita lógica. Jogar para não descer é sempre frustrante para os jogadores mas vamos à luta e tentar fazer um boa segunda fase», promete, a poucos dias do arranque.
Zamorano também frisa a desmotivação que os jogadores sentem mas já tem objetivos definidos para o que aí vem: «Vamos procurar que o grupo perceba que está em causa a dignidade do clube, o profissionalismo dos jogadores e tentar disputar todos os domingos os três pontos, tendo sempre como meta, porque preferimos lutar por coisas boas do que por coisa nenhuma, ganhar todos os jogos para ficarmos em primeiro lugar nesta segunda fase».
Com 36 anos Bakero já tinha pensado «pendurar as botas» no final da época e «dar oportunidade aos mais novos». Apesar de frisar que o futuro a Deus pertence essa decisão acabou por ser precipitada com a mudança técnica no clube felgueirense.
«Temos uma fase que nos pode abrir ou fechar muitas portas, vai depender de como liderarmos a equipa nestes 14 jogos. Vamos dar tudo o que sabemos e aprendemos nestes anos no futebol. Vamos fazer o melhor possível para as pessoas verem que há possibilidade de se ter sucesso neste cargo. Independentemente do que a direção possa querer no próximo ano e dos objetivos que traçar, podemos não estar no projeto mas sairemos de cabeça erguida e com a certeza que tudo demos tudo pelo clube da nossa terra».
Neste particular é apenas aqui que os nossos entrevistados divergem. Zamorano não pensa, ainda, em terminar a carreira.
«Tenho 32 anos, sinto-ne com capacidade para jogar mais dois ou três anos, caso não tenha nenhuma lesão. Neste momento não estou preparado para deixar já de jogar mas tudo tem a ver com a forma como as coisas corram daqui para a frente, mediante o que aconteça nestes meses que faltam para terminar a época. Logo verei se estarei preparado para assumir uma nova função ou se irei voltar a jogar».
1-1 | ||
Hélder Pedro 45' | Daniel Cerdeira 38' |