Final épica na Luz coroada de branco. 12 anos depois o Real Madrid voltou a festejar a conquista da Liga dos Campeões após ter garantido o prolongamento na compensação. Faltou pulmão a um Atlético de fibra. Triunfo por 4x1 exagerado. A orejona, ou orelhuda em português numa final totalmente castelhana, vai para o Bernabéu.
A equipa que marcou o primeiro golo ganhou 30 das últimas 36 finais da Liga dos Campeões. Está desfeita a malapata. Eficaz, o Atlético marcou primeiro mas não conseguiu segurar a vantagem, acabando goleado no prolongamento. Godín marcou para os colchoneros, Sergio Ramos, Gareth Bale, Marcelo e Cristiano Ronaldo fizeram os golos dos merengues.
O ambiente
Festa rija, apaixonante, deslumbrante. Nunca um estádio foi tão vibrante, colorido, arrepiante. Se o futebol é um espetáculo, o que se viveu, esta noite, no estádio da Luz foi um hino aos amantes das coisas bonitas, das fintas, das táticas, do cheiro da relva, do aperto no coração e na barriga do quase golo. Da paixão. Dos gritos nas bancadas. Dos cânticos. A Champions é a festa dos craques. E o estádio da Luz foi o anfitrião perfeito, engalanado, colorido e super imponente, perfeito para uma final deste tamanho, entre clubes com adeptos do mais emocionante que existe.
Os artistasAncelotti apostou em Khedira para o miolo, face à ausência de Xabi Alonso, por castigo, ao invés de Illarramendi, como se esperava. Benzema, que esteve em dúvida por questões físicas, jogou de início, ao passo que Pepe foi para o banco.
No Atlético, Diego Costa, que esteve em dúvida devido a lesão, teve direito à titularidade, mas acabou por ser uma má aposta de Simeone, que teve que substituir o goleador antes dos dez minutos. Arda Turan nem ao banco foi, não tendo recuperado da lesão que o fez sair do jogo do título, na semana passada, que terminou com o título para os colchoneros.
A tática
Pouca surpresa na postura das duas equipas em campo. O Real Madrid entrou rápido, imponente e pressionante, sempre mais balanceado para o ataque. Os merengues, com a velocidade de Bale e Benzema, variavam bem a penetração ofensiva entre os dois flancos. O setor intermédio, no entanto, surgiu sempre mais frágil, menos assertivo e apresentou mais dificuldades no frente a frente com os quatro elementos do miolo colchonero.
O Atlético de Madrid também não surpreendeu, jogando pela certa, sempre mais contido, com os blocos mais juntos, como é hábito, exercendo sempre muita pressão a toda a largura, fruto, sobretudo, da superioridade numérica do meio-campo.O erro
É quase uma verdade popular: quanto mais nos esforçamos para não errar, mais facilmente o erro acontece. Foi assim no primeiro tempo no estádio da Luz. Jogo tático, equipas encaixadas, mais pendor ofensivo do Real Madrid, mas pouca loucura, se é este o termo a usar, ou seja, pouco risco corrido de parte a parte.
O resultado prático desta atitude acabou por ser, desde logo, uma pobreza grande em termos ofensivos. O único lance de perigo real dos merengues resulta de um erro do Atlético, o golo dos colchoneros é fruto de uma falha de Casillas.
Depois o Atlético. Quatro minutos depois e na sequência de um pontapé de canto, Godín ganhou a tudo e todos nas alturas, não cabeceou forte mas Casillas hesitou na saída e no sai não sai da pequena área acabou por não conseguir evitar o golo colchonero.
Sí, se puede
«Sí, se puede», era o que cantavam os adeptos do Real Madrid no reatamento da partida. E foi mesmo assim que os merengues entraram em campo, com ganas de fazer das tripas coração para mudar o destino que parecia traçado.
Logo a abrir, bomba de Ronaldo, num livre. Courtois fez jus aos elogios que tem recebido, considerado um dos melhores do Mundo da atualidade, e defendeu cheio de estilo.
De seguida, Ronaldo, de cabeça, fez a bola raspar a barra. Desespero blanco, Ancelotti praguejava, Simeone mandava os seus jogadores juntarem as linhas e trazerem a bola para o meio-campo, onde fechavam todos os espaços.Malfadado destino, gritaram novamente os adeptos do Real, quando Ronaldo falhou o cabeceamento após um livre de Sergio Ramos na esquerda, e Benzema não conseguiu encostar ao segundo poste.
Isco entrou e Ronaldo surgiu ainda mais em zona de finalização. O jogo melhorou muito no segundo tempo, pelo menos em emoção. Mais ainda com Bale a insistir nas palpitações cardíacas dos adeptos do Real, voltando a atirar para fora, num remate aos 73´ e em zona frontal. E depois Ronaldo, à meia-volta, por cima. E novamente Bale, a surgir embalado na direita, a optar pelo remate, para fora, quando tinha dois colegas a entrar no meio.
Tão perto de escrever o seu nome na história, o Atlético fez o que tinha que fazer: segurou o jogo, o golo precioso, fechou os caminhos para a sua baliza e quase conseguiu.
O soco no estômago de Sergio Ramos
Nem sempre o futebol é justo mas, às vezes, acaba por ser. O golo de Sergio Ramos é mais que justo. O Atlético de Madrid, encostado às cordas, quase abdicou do ataque no segundo tempo. Valeu a insistência merengue, a ser recompensada no prolongamento.
Três minutos depois do tempo regulamentar, Ronaldo foi decisivo, levou consigo dois defesas e abriu caminho para a entrada de Sergio Ramos, após um canto de Modric. Colocadíssimo, o cabeceamento do central foi um murro no estômago dos colchoneros, uma injeção de esperança nos merengues. Nunca tinha havido um golo tão tarde numa final da Champions.
Real mais ambicioso mas cansaço domina
Jogo de fim de época, intenso como foi, e já sem substituições para nenhuma das equipas, os jogadores tiveram que ir buscar forças a tudo menos ao físico. Eram, aliás, bem visíveis as preocupações dos clubes e das suas estruturas para recuperarem os atletas para mais 30 minutos de jogo.
O Atlético abriu um pouco mais, mas manteve a postura expectante. Ficava a sensação de que os colchoneros seguiriam de imediato para a lotaria dos penáltis.O Real, inevitavelmente, teve que baixar o ritmo, mas manteve-se mais ambicioso que o seu rival. Ainda assim, o único lance a destacar do primeiro tempo do prolongamento pertenceu a Cristiano Ronaldo, num pontapé livre. O internacional português ficou a pedir penálti, por mão de Gabi, mas o árbitro Björn Kuipers entendeu que não houve intenção e mandou seguir.
Minutos depois do reatamento, Di María tirou um coelho da cartola. Jogada fantástica do argentino na esquerda, que levou tudo à frente, entrou na área, rematou para a defesa de Courtois, com a ponta dos dedos, mas a bola sobrou para Bale que se redimiu dos falhanços da noite e colocou os merengues na frente.
O Real não se livrou de mais um sufoco, com uma saída em falso de Casillas, mas Tiago, após matar no peito, atirou por cima.
A festa foi fechada por Marcelo. Ronaldo fez o passe para o brasileiro surgir em zona frontal, já diante de um Atlético de Madrid desfeito, fisicamente, e marcou o terceiro. O quarto foi o coroar do melhor jogador do Mundo, Cristiano Ronaldo, a fazer disparar milhares de flashes nas bancadas da Luz. Consagração blanca. A décima foi conquistada, 12 anos depois. O Atlético foi a equipa da fibra, mas faltou-lhe pulmão.
4-1 a.p. | ||
Sergio Ramos 90' Gareth Bale 110' Marcelo 118' Cristiano Ronaldo 120' (g.p.) | Diego Godín 36' |