Falar de Taça de Portugal é, obrigatoriamente, falar de festa e de momentos ímpares. Uma das grandes atrações das primeiras eliminatórias é saber se surgem surpresas inesperadas e se algum clube de menor expressão consegue fazer tombar os designados «grandes». Fernando Santos, por exemplo, não tem razões para sorrir com nenhuma das três cores, enquanto que Pedro Barbosa é perito sem intenção...
As situações são raras, mas servem não só para elevar ao estrelato emblemas menos conhecidos, como também para troça entre os adeptos de eternos rivais. Nesse sentido, e em vésperas do Cinfães x Benfica, FC Porto x Trofense e Sporting x Alba, o zerozero.pt foi descobrir quem tombou mais vezes de Benfica, FC Porto e Sporting, contra equipas que militassem, à data, em escalões inferiores.
Benfica caiu por três vezes
O Benfica é o detentor do maior número de troféus: 24. Os encarnados têm também o maior número de finais disputadas (34 contra 28 do FC Porto e 26 do Sporting), mas estão no pior período de sempre na competição, que não vencem desde 2003/04.
Nestas contas que o zerozero.pt lhe apresenta, os benfiquistas já registaram dissabores inesperados. Em 1960/61, o Vitória de Setúbal, na altura no segundo escalão, foi à Luz perder por 3x1, mas conseguiu uma remontada no Campo dos Arcos, ao vencer por 4x1, num jogo em que nem Eusébio valeu ao Benfica. Este acabou por ser o único desaire do Benfica no século XX frente a formações de escalões inferiores.
O novo século trouxe, porém, dois novos desaires: em 2002/03, o Gondomar, do terceiro escalão, escandalizava a Luz (0x1), graças a um tento solitário de Cílio Souza, e eliminava o Benfica da Taça, ao mesmo tempo que ditava o despedimento de Jesualdo Ferreira.
Quatro anos mais tarde, a deslocação à Póvoa do Varzim também acabou de forma trágica para a equipa de Fernando Santos, onde pontificavam nomes como Luisão, Nuno Gomes, Simão Sabrosa ou Rui Costa. Um auto-golo de Nélson e um tento de Mendonça foram suficientes para a vitória por 2x1, num desafio em que brilhou o agora guarda-redes da Académica Ricardo.
FC Porto já leva seis quedas
Os portistas têm 16 Taças de Portugal conquistadas e, no novo milénio, conquistaram sete das 14 edições, só que não se livram das suas páginas negras.
A década de 40 trouxe três tombos: o primeiro foi em 1942/43 e por números expressivos, com o FC Porto a perder em Setúbal por 7x0; em 43/44 o Estoril Praia venceu o primeiro jogo em casa por 3x2 e foi ao Campo da Constituição confirmar a passagem, vencendo por 1x2; em 47/48, a ida ao Barreiro também não foi nada saborosa, graças ao 1x0.
Já em 1969/70, o jogo a duas mãos contra o Tirsense nos dezasseis-avos não previa dificuldades de maior e o jogo em Santo Tirso (2x2) tranquilizou ainda mais o cenário, só que a surpresa aconteceu um mês e uma semana depois, com o 0x1 nas Antas.
Mais recentemente, decorria a época do Penta (1998/99) quando o Torreense, do terceiro escalão, visitava as Antas. O golo portista tardou tanto que Cláudio Oeiras, aos 85 minutos, fazia o 0x1.
O último escândalo foi já no Dragão, em 2006/07. O Atlético, no terceiro escalão, ia ao Porto escrever história (0x1) com um golo do brasileiro David da Costa, numa partida em que Quaresma falhou um penálti nos descontos.
Sporting com quebra recente
O Sporting soma 15 conquistas da prova-raínha. O clube de Alvalade também tem grande história na competição, tendo sido ultrapassado há pouco tempo pelo FC Porto na vice-liderança das conquistas, ainda que seja o clube que mais vezes caiu nas meias-finais: 17.
A sua primeira surpresa amarga data de 1948/49, quando os leões perderam em Santo Tirso por 2x1, contra o Tirsense.
Só cinquenta anos depois se voltou a registar um desaire com as proporções que o zerozero.pt lhe mostra. Em Barcelos, o Gil Vicente, na altura no segundo escalão, derrotava o Sporting de Mirko Jozic por 3x2, graças aos golos de Almami Moreira, Casquilha e Tavares, frente a uma formação que marcou por Vidigal e Krpan.
Poucos anos depois, em 2002/03, era a vez de a Naval, do segundo escalão, ir a Alvalade sob a orientação de Álvaro Magalhães e ganhar por 0x1, graças ao golo de Costé, que humilhou uma equipa com Sá Pinto, Mário Jardel e... Cristiano Ronaldo.
Logo no ano seguinte, foi a vez de o Vitória de Setúbal, com Carlos Carvalhal no banco, ir ao novo Alvalade vencer também por 0x1, valendo o tento de Orestes.
Curiosidades
Num conjunto de 12 cenários atípicos, acabam por existir curiosidades interessantes. Desde logo, as épocas de 1998/99, 2002/03 e 2006/07 registaram duplo cenário de tomba-gigantes.
João Manuel Pinto, Fehér e Drulovic estiveram na derrota portista contra o Torreense e na derrota benfiquista frente ao Gondomar, Simão Sabrosa esteve no duelo sportinguista contra o Gil Vicente e na queda encarnado na Póvoa do Varzim, João Paulo atuou pelo Sporting contra a Naval e pelo FC Porto contra o Atlético, Mantorras e Nuno Gomes bisaram pelo Benfica, Rui Jorge, Tiago e Sá Pinto também o fizeram no Sporting. Pedro Barbosa foi mais longe e esteve em três das quatro humilhações sportinguistas.
Nos treinadores, Fernando Santos tem um 'tesourinho' em cada um dos «grandes». No FC Porto, caiu contra o Torreense, no Sporting foi o Vitória de Setúbal o carrasco e, comandando o Benfica, perdeu contra o Varzim. Jesualdo Ferreira também já 'tomou o gosto' por mais de uma vez: frente ao Gondomar na Luz e contra o Atlético no Dragão.
Por falar em carrascos, há dois emblemas que se destacaram por terem cometido a proeza de eliminarem um «grande» estando num escalão abaixo: Vitória de Setúbal conseguiu-o em três situações e o Tirsense em duas.