A nova temporada está prestes a começar e com ela escrever-se-ão novas páginas de história. História essa que começou a ser construída por clubes que hoje em dia se encontram dispersos por entre as várias divisões que compõem o futebol português, mas também por outros que já não fazem parte do nosso quotidiano.
No ano em que o Arouca se torna no 70.º clube a estrear-se no principal escalão, o zerozero.pt mostra-lhe o que aconteceu com alguns que já estiveram no auge e que hoje já não existem.
A extinção de clubes não é uma prática comum em Portugal. Há situações em que a equipa sénior pode terminar mas as camadas jovens continuam a dar vida a um clube. Porém, há cinco casos no futebol português de clubes que se extinguiram mas que já competiram no principal escalão.
É esse facto que une clubes como o Carcavelinhos ao CD Montijo, ao Riopele, ao SL Elvas ou ao União Lisboa. Todos eles já não existem, uns porque desapareceram em definitivo, outros porque fecharam portas para se fundirem com outros clubes, mas muitos dos nomes já surgiram no caminho dos seguidores do futebol português, apesar da distância temporal que separa o presente das respetivas participações no principal campeonato.
Carcavelinhos
Dos cinco clubes mencionados, o Carcavelinhos é aquele que conta com mais participações no principal escalão do futebol português.
Fundado em 1912 no bairro lisboeta de Alcântara, a estreia aconteceu na temporada 1935/1936, já depois de ter conquistado o grande título da sua história, o Campeonato de Portugal (prova antecessora da Taça de Portugal e a mais importante do futebol luso na altura) em 1927/1928, tendo ganho ao Salgueiros por 8x1 nos quartos-de-final, por 3x0 ao Benfica nas meias-finais e por 3x1 ao Sporting na final da competição, com golos de José Domingues, que bisou, e Manuel Rodrigues. O treinador era Carlos Canuto, que acumulava a função de técnico com a de jogador e que mais tarde viria a ser árbitro.
Em 1936/1937, o Carcavelinhos terminou o campeonato na sexta posição com nove pontos, ficando à frente do Vitória de Setúbal e do Leixões. Duas vitórias contra a Académica (1x0 e 1x2), outra diante do Vitória de Setúbal (1x0) e outra contra o Leixões (4x0), além de um empate em casa com o FC Porto (0x0), foram a razão dos pontos conquistados.
Na época de 1937/1938, o clube do bairro de Alcântara alcançou a melhor classificação de sempre, terminando o campeonato no quarto lugar com 11 pontos, embora com uma distância considerável para o trio da frente composto por Benfica, FC Porto e Sporting, respetivamente. Os dois triunfos frente ao Académico do Porto (0x4 e 2x0) e aqueles obtidos contra o Belenenses (1x0), Académica (2x1) e Barreirense (1x2), além do empate com a formação do Barreiro (2x2), foram os responsáveis pela melhor posição obtida.
Após um ano em que venceu a II Divisão Nacional o Carcavelinhos voltou a competir no principal escalão (em 1939/1940), numa altura em que a prova já contava com dez equipas em vez de oito. O clube ficou à frente do Académico do Porto, do Leixões e do Vitória de Setúbal, amealhando dez pontos graças aos triunfos frente a estes adversários (0x2 aos sadinos, 1x3 e 3x2 ao portuenses, 5x2 ao matosinhenses) e aos empates também com o Vitória de Setúbal (0x0) e Académica (2x2).
Em 1941/1942 registou-se a última participação do Carcavelinhos no campeonato. Já com 12 equipas em competição, os lisboetas ficaram na nona posição com 14 pontos, à frente de Académico do Porto, Vitória de Guimarães e Leça. Cinco vitórias (0x3 e 3x1 ao Leça, 2x1 ao Vitória de Guimarães, 2x3 ao CF Os Unidos e 6x0 ao Académico do Porto), além de quatro empates (2x2 com o Barreirense e com o Belenenses, 3x3 com o FC Porto e 1x1 com o Académico do Porto) compõem o último registo do clube.
Em 1942 o Carcavelinhos extinguiu-se ao fundir-se com o União de Lisboa, outro dos históricos que competiu no principal escalão do futebol português, para fundar o Atlético, que atualmente se encontra na Segunda Liga.
CD Montijo
O Clube Olímpico de Montijo é aquele que representa atualmente a cidade no futebol, mas a sua existência é recente, tendo apenas sido fundado em 2007, após a extinção do histórico Clube Desportivo de Montijo, por onde passaram vários jogadores que vestiram a camisola da seleção portuguesa, como os casos de José Neto, Barrigana, João Alves ou Ricardo.
Nessa altura, o CD Montijo contou com três participações no principal campeonato do futebol português, tendo a estreia acontecido em 1972/1973 com um 12.º lugar, à frente de Beira-Mar, Atlético, União de Coimbra e União de Tomar. O primeiro jogo foi frente ao Atlético e no mesmo registou-se um triunfo por 1x3. 16 derrotas, nove vitórias e cinco empates foi o registo conseguido na primeira participação.
Na época seguinte a prestação foi mais fraca e o último lugar não engana, tendo como consequência a descida de divisão. O CD Montijo ficou na 16.ª posição com apenas 20 pontos, fruto de 17 derrotas, sete vitórias e seis empates.
A derradeira prestação no principal escalão aconteceu em 1976/1977. O 14.º posto registado no final dessa temporada voltou a ditar a descida de divisão, mas, ao contrário do que tinha acontecido em 1974, desta vez não era reversível. 14 derrotas, nove empates e sete vitórias foi o saldo do CD Montijo na última prestação na primeira divisão, tendo a despedida acontecido a 29 de maio, com um empate caseiro a dois golos com o Portimonense.
SL Elvas
Fundado em 1925 e extinto em 1947 para, juntamente com o Sporting Clube de Elvas, filial do Sporting, dar lugar ao nascimento do O Elvas, o Sport Lisboa e Elvas, filial do Benfica, conta no palmarés com a conquista de dois Campeonatos de Portalegre, uma prova anual que teve início em 1911/1912 mas que teve o seu fim em 1946/1947.
Em 1945/1946, o SL Elvas amealhou 17 pontos e conseguiu a permanência, ficando à frente de Académica, Boavista e Oliveirense. Apesar de ter somado 13 derrotas em 22 jogos, oito vitórias e um empate foram suficientes para garantir a continuidade dos alentejanos entre a elite do futebol português
Na temporada seguinte o SL Elvas, com 20 pontos, voltou a terminar o campeonato no nono lugar, tendo conseguido deixar atrás de si as equipas da Académica, do Vitória de Setúbal, do Boavista, do Famalicão e da Sanjoanense.
Apesar da permanência o clube extinguiu-se em 1947 e, após a fusão com o outro embema da terra, o SC Elvas, deu vida ao O Elvas Clube Alentejano de Desportos, que no seu primeiro ano de vida teve a oportunidade de participar na primeira divisão, ocupando a vaga deixada em aberto com o desaparecimento de um dos seus antecessores, num ano marcado pela reformulação dos campeonatos nacionais, altura em que o acesso ao campeonato nacional deixou de ser através das ligas distritais e passou a haver subidas e descidas.
União Lisboa
O estatuto de finalista do Campeonato de Portugal aconteceu em 1929, com o União de Lisboa a ser derrotado na final da competição pelo Belenenses por 2x1, depois de ter eliminado o Sporting (2x1), o Leça (9x0), o Sporting de Espinho (2x4) e o Beira-Mar (0x3).
Cinco anos mais tarde, o União de Lisboa teve a sua única participação no campeonato da primeira divisão, fazendo parte do lote restrito de oito equipas que participaram na primeira edição da principal prova do futebol português.
Os lisboetas conseguiram conquistar oito pontos e terminaram a prova no sexto lugar, graças a duas vitórias frente à Académica (1x3 e 1x0) e outra diante do Académico do Porto (5x2), equipas que terminaram o campeonato atrás de si. Além disso, conseguiram um empate com os portuenses (3x3) e outro com o Benfica (2x2).
Em 1942, já depois de ter conquistado vários títulos noutras modalidades além do futebol, o União de Lisboa fundiu-se com o Carcavelinhos e deu origem ao Atlético.
Riopele
Ao contrário das outras quatro equipas já referidas e que foram extintas, o Riopele tem a particularidade de ser uma equipa-fábrica (à imagem da CUF), uma tendência importada da Alemanha e do leste da Europa
Os sucessos do Riopele nos escalões mais baixos chamaram jogadores de vários pontos do país, sendo que esses eram aceites na equipa de futebol e tinham como sustento o trabalho realizado na empresa. O ponto mais alto do clube aconteceu em 1977/1978, quando participou pela primeira e única vez na primeira divisão.
A estreia aconteceu a 4 de setembro de 1977 e logo com uma vitória por 2x0 sobre a Académica. Nas três jornadas seguintes conseguiu dois empates sem golos fora de casa com o SC Braga e o Estoril, tendo ainda vencido em casa o Vitória de Setúbal por 2x1. As primeiras quatro rondas foram bastante positivas mas uma série negativa de seis derrotas consecutivas deitaram por terra o bom trabalho conseguido no início da prova.
Assim, sem nunca conseguir uma regularidade de bons resultados ao longo da época, o Riopele acabou o campeonato no penúltimo lugar, apenas à frente do Feirense, com 21 pontos, acabando por descer de divisão. A despedida aconteceu em casa, frente ao Benfica, jogo que os encarnados venceram por 4x1.
De referir que dessa equipa do Riopele que participou na primeira divisão fazia parte Jorge Jesus, atual treinador do Benfica, e que, enquanto jogador, também representou o Almancilense, Benfica Castelo Branco, Atlético, Estrela da Amadora, Farense, Vitória de Setúbal, União de Leiria, Juventude de Évora, Belenenses, Sporting, Olhanense e Peniche.
Após ter regressado, em 1978, ao segundo escalão, o Riopele nunca mais conseguiu voltar ao convívio dos grandes e acabou por ser extinto em 1985, 27 anos depois de ter sido fundado.
Campeonato dos campeonatos entre os cinco extintos
Tendo por base o somatório de pontos conquistados em todos os jogos disputados por estas cinco equipas na primeira divisão, o CD Montijo é líder da classificação, seguido do Carcavelinhos, SL Elvas, Riopele e União Lisboa.
A formação montijense teve três participações e nelas conseguiu conquistar 66 pontos num total de 90 jogos, graças a 23 vitórias, 20 empates e 47 derrotas. Além disso, o saldo é de 91 golos marcados e 155 sofridos.
Graças a isso, numa classificação geral entre todos os clubes que já participaram na primeira divisão e que é liderada pelo Benfica, o CD Montijo está no 49.º posto, que serve para ser líder entre os cinco emblemas extintos e que já atuaram na prova.
Na vice-liderança está o Carcavelinhos, que é 54.º na classificação geral. A formação do Bairro de Alcântara é aquela que conta com mais participações na primeira divisão (cinco) mas nem por isso é a que tem mais jogos, uma vez que disputou apenas 82 partidas, menos oito que o CD Montijo, porque a competição tinha menos participantes nas épocas em que jogou.
50 pontos em 82 jogos, graças a 19 vitórias, 12 empates e 51 derrotas, é o saldo do Carcavelinhos, que nessas cinco temporadas conseguiu marcar 103 golos e sofrer 223.
No terceiro lugar e em 57.º na geral surge o SL Elvas, que participou duas vezes no principal escalão do futebol português. Com 37 pontos conquistados em 48 jogos, a turma elvense amealhou 17 vitórias, três empates e 28 derrotas, tendo marcado 108 golos e encaixado 167.
Com uma participação e 30 jogos realizados na primeira divisão, o Riopele, que ocupa o 61.º lugar na geral, conquistou 21 pontos graças a seis vitórias, nove empates e 15 derrotas, sendo que o saldo nos golos é de 23 marcados e 51 sofridos.
Por último, em quinto lugar nesta mini-classificação e em 67.º na geral surge o União de Lisboa, que soma oito pontos em 14 jogos disputados na única participação que teve na primeira divisão. Com três vitórias, dois empates e nove derrotas, o clube que juntamente com o Carcavelinhos fundou o Atlético, marcou 30 golos e sofreu 49.
Total | |||||||||
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Pos. | Equipa | P | P | J | V | E | D | GM | GS |
1 | Benfica | 79 | 3389 | 2198 | 1483 | 423 | 292 | 5323 | 1987 |
2 | FC Porto | 79 | 3300 | 2198 | 1449 | 402 | 347 | 4895 | 2002 |
3 | Sporting | 79 | 3154 | 2198 | 1346 | 462 | 390 | 4843 | 2123 |
49 | CD Montijo | 3 | 66 | 90 | 23 | 20 | 47 | 91 | 155 |
54 | Carcavelinhos | 5 | 50 | 82 | 19 | 12 | 51 | 103 | 223 |
57 | SL Elvas | 2 | 37 | 48 | 17 | 3 | 28 | 108 | 167 |
61 | Riopele | 1 | 21 | 30 | 6 | 9 | 15 | 23 | 51 |
67 | União Lisboa | 1 | 8 | 14 | 3 | 2 | 9 | 30 | 49 |