Oposição familiar
Ricardo Zamora nasceu na Cidade Condal, corria o dia 21 de janeiro de 1901. Desde menino que adorava desporto, praticando atletismo, pugilismo e natação, ganhando uma constituição física de atleta que invejava os colegas. Aos 15 anos, começou a dar os primeiros passos no futebol, não obstante a grande oposição de seu pai, que insistia que seguisse a carreira académica, para se tornar num médico.
O seu primeiro clube foi o Espanyol de ##Barcelona e foi ao serviço dos "periquitos" que começou a mostrar as suas evidentes qualidades. Os seus magníficos reflexos, a agilidade e coragem com que se batia por cada bola, assim como uma capacidade de posicionamento invejável, eram os penhores de uma segurança que rapidamente se tornou lendária, refletindo-se nos companheiros e enervando os adversários, tornando-se em pouco tempo no protótipo do guarda-redes perfeito.
Com 19 anos, um desentendimento com a direção azul-e-branca despertou o interesse dos vizinhos blaugranas, que prontamente o levaram para Les Corts, onde Zamora começou a fazer história...
Primeiros títulos
Seria com os barcelonistas que conquistaria a sua primeira Copa del Rey em 1920, no mesmo ano em que a seleção espanhola se estreou para disputar o torneio dos Jogos Olímpicos de Antuérpia.
Zamora foi o portero titular e uma das principais figuras da Roja, fundamental na caminhada para a medalha de prata, o primeiro grande sucesso do longo palmarés do futebol espanhol.
Apercebendo-se que a sua fama aumentava a cada dia que passava, ciente de que era um ídolo dos adeptos do Barcelona, reuniu-se com a direção do clube e pediu um aumento. Os dirigentes culés negaram as suas pretensões e como represália, voltou ao rival Espanyol. A sua transferência bateu todos os recordes até então, ficando a receber 25 mil pesetas de prémio de assinatura e umas impressionantes cinco mil pesetas por mês.
A sua transferência e o ordenado fizeram as parangonas dos jornais catalães e impressionaram a Espanha, abrindo o «apetite» em outras paragens...
Salto para a capital
Apesar das suas grandes exibições, o Espanyol não podia oferecer-lhe a capacidade de conquistar títulos e foi assim que em 1930 aceitou uma oferta do Real Madrid, um crónico candidato a vencer as competições que participava. A troco de 100 mil pesetas - o custo do seu passe -, Ricardo trocou a sua Catalunha natal pela capital, assinando pelo clube blanco.
Em Madrid, no auge das suas capacidades, ganhou a alcunha de «El Divino», pela sua capacidade rara de intuir a trajetória da bola, corrigindo a posição no último momento até para defender bolas que desviam nas pernas de algum defesa.
Apesar do seu estilo sóbrio, introduziu algumas inovações no futebol, a mais famosa das quais, o alívio da bola com o cotovelo, movimento que passou à história como «la zamorana». Tornou-se no primeiro jogador verdadeiramente mediático de Espanha, protoganizando inclusivamente dois filmes que lotaram os cinemas por todo o país: «Por Fin se Casa Zamora» (1926) e «Campeones» (1942).
De regresso a casa, senta-se no banco para comandar o Atlético Aviación (atual Atlético de Madrid) que comandou na conquista as ligas de 1940 e 1941. Seguiu-se uma passagem pelo Celta de Vigo, a aonde regressaria mais duas vezes durante a carreira. Treinou ainda o Málaga, o Espanyol e teve uma experiência no estrangeiro, orientando o Lasalle de Caracas da Venezuela. Foi também selecionador de Espanha em 1952 e regressou à Venezuela para comandar a seleção local um ano mais tarde.
Terminada a carreira de treinador, passou a trabalhar no Espanyol, clube com quem trabalhou praticamente até ao dia da sua morte. Em reconhecimento da sua enorme carreira como jogador, em 1959 nasceu o Troféu Zamora, que premeia anualmente o melhor guarda-redes da liga espanhola. Galarduado a título póstumo com a Medalha de Ouro de Mérito Desportivo de Espanha, viu o Município de Barcelona homenagea-lo, ao dar o seu nome a uma praça que fica perto do desaparecido Estádio de Sarriá, a mítica casa do Espanyol.