Pela segunda vez consecutiva, o Campeonato da Europa foi organizado por dois países: o futebol europeu deslocou-se para leste, para a Polónia e a Ucrânia. A candidatura conjunta foi anunciada como vencedora em maio de 2007, batendo a concorrência da Itália (inicialmente vista como favorita) e da candidatura também conjunta de Croácia e Hungria. A preparação dos dois países para a organização do torneio, principalmente a construção dos estádios, foi alvo de preocupação e críticas por parte da UEFA (chegou mesmo a falar-se que a Escócia estaria de prevenção para organizar o torneio) mas, em junho de 2012, tudo estava preparado para a festa do futebol europeu.
A qualificação para a fase final decorreu sem grandes surpresas. Montenegro e Estónia ainda sonharam com a inédita presença na competição, mas caíram nos playoffs. Neste sentido, a única seleção em estreia na prova era mesmo uma das anfitriãs, a Ucrânia, enquanto a República da Irlanda, de Trapattoni, regressava à competição 24 anos, depois do afastamento polémico do Mundial 2010, na jogo famoso pela mão de Henry.
No relvados de Lviv, Donetsk, Kiev, Kharkiv, Varsóvia, Gdansk, Pozman e Wroclaw, 16 seleções lutaram pelo título de melhor equipa europeia. O objetivo de quase todas as seleções era destronar a Espanha (que não podia contar com o seu maior goleador, David Villa, lesionado), campeã da Europa e do Mundo.
Organizadores sem resultados
A 8 de junho, em Varsóvia, Polónia e Grécia (orientada por Fernando Santos) deram o pontapé de saída no 14.º Campeonato da Europa. A Polónia inaugurou o marcador pela sua maior estrela, Lewandowski, mas a Grécia empatou no segundo tempo e esteve muito perto do triunfo, só que desperdiçou uma grande penalidade. No mesmo dia, a Rússia, semifinalista da prova em 2008, goleou a Rep. Checa por 4x1, com o jovem Dzagoev a bisar. Os russos acreditavam que era possível repetir a façanha de quatro anos antes, mas sofreriam uma desilusão…
Os jogos decisivos tiveram uma enorme carga emocional, e um futebol não tão bem jogado. Um golo do veterano Karagounis deu vantagem à Grécia sobre a Rússia, obrigando polacos e checos a terem de vencer para se qualificar. Foi a República Checa quem ganhou e, de forma algo surpreendente, Rep. Checa e Grécia seguiam para os quartos de final.
Um dos aliciantes da fase inicial do torneio era o Grupo B, denominado “Grupo da Morte”, em que a Alemanha (vicecampeã da Europa), a Holanda (vicecampeã do Mundo), Dinamarca (campeã da Europa em 1992) e Portugal (liderado por Cristiano Ronaldo) se defrontavam. Um golo de Mario Gómez deu a vitória à Alemanha sobre Portugal na primeira jornada da prova, enquanto a Dinamarca surpreendeu ao derrotar a poderosa Holanda, uma das grandes favoritas ao título. Se a derrota na jornada inicial complicou as contas aos holandeses, tudo ficou ainda pior com a derrota frente à Alemanha, com mais dois golos de Gómez. No mesmo dia, Dinamarca e Portugal protagonizam um dos melhores jogos do torneio. Portugal chegou tranquilamente a uma vantagem de dois golos, mas um bis de Bendtner deixou o jogo empatado, um resultado muito favorável aos dinamarqueses. Já perto do final do jogo, o suplente Silvestre Varela permitiu um triunfo bastante importante à seleção portuguesa.
Seguiram-se dias com muitas contas, tentando antecipar-se os diferentes cenários – nem a Alemanha, já com duas vitórias, tinha a qualificação assegurada. Os germânicos conquistaram o terceiro triunfo em três jogos frente à Dinamarca e qualificaram-se, enquanto a Holanda somou a terceira derrota na prova, sendo eliminada como a grande desilusão do torneio. Os holandeses precisavam de um milagre (uma vitória e uma derrota da Dinamarca, tendo ainda que anular a desvantagem de golos), estiveram em vantagem no marcador, mas a obrigatoriedade de vitória permitiu espaços na defesa e Cristiano Ronaldo aproveitou. O craque português, que tinha estado desinspirado nos dois primeiros jogos, apareceu em grande no momento decisivo, com um bis no triunfo português (2x1), permitindo a Portugal qualificar-se pela quinta vez consecutiva para os quartos de final do Europeu.
Finalmente, no grupo D, estava uma das organizadoras, a estreante Ucrânia, as poderosas França e Inglaterra e a Suécia, de Ibrahimovic. Os ingleses surgiam no meio de um caos: problemas entre jogadores, treinador e federação motivaram a saída de Fabio Capello pouco antes do Europeu. Roy Hodgson foi o escolhido para o seu lugar e os ingleses não acreditavam no sucesso da sua seleção, principalmente depois dos afastamentos de Rio Ferdinand (opção) e de Lampard (lesionado). Ainda assim, a Inglaterra arrancou o torneio com uma exibição agradável frente à França, num jogo que terminou empatado a um golo. No mesmo jogo, a Ucrânia virou o resultado frente à Suécia, com Shevchenko, a estrela maior do futebol ucraniano, a bisar e a anular o golo madrugador de Ibrahimovic. Na segunda jornada, Inglaterra e Suécia protagonizaram um excelente jogo, com golos e reviravoltas, com os ingleses a serem mais felizes no final (3x2), levando à eliminação dos suecos. A Ucrânia podia fazer história: um triunfo frente à França ditava o seu apuramento. Em Donetsk, num jogo que teve que ser retardado uma hora devido a um autêntico dilúvio, os gauleses não deram hipóteses, vencendo por 2x0. Na última jornada, a Ucrânia ainda sonhava com o apuramento, mas um golo de Rooney (ausente nos dois primeiros jogos, devido a castigo) valeu a vitória à Inglaterra, que assim se qualificou, num resultado que permitiu igualmente a qualificação da França (derrotada pela Suécia no último jogo)
Quartos de final
Meias-finais
Nas meias-finais, a Espanha afastou Portugal no desempate por grandes penalidades, depois de um nulo no final dos 120 minutos. João Moutinho e Xabi Alonso falharam o primeiro remate de cada, mas os dois penaltis seguintes de cada equipa foram convertidos. Bruno Alves atirou ao poste e Fàbregas converteu a última grande penalidade da Espanha, que assim festejou a qualificação para a final. Surpreendente, Cristiano Ronaldo, absoluta estrela do Real Madrid por essa altura, não cobrou a sua grande penalidade – seria o último português a fazê-lo, mas já não teve oportunidade… Na outra meia-final, Itália e Alemanha protagonizavam um clássico do futebol europeu: os germânicos estavam 100% vitoriosos na prova, enquanto a Itália tinha a tradição do seu lado – eliminara sempre os alemães numa fase final. E a tradição manteve-se: com um super Mario Balotelli, autor de dois golos na primeira parte, a seleção italiana bateu a germânica por 2x1 – o golo alemão foi grande penalidade, praticamente no final -, assegurando um lugar na final.
A final
Casillas, Sergio Ramos, Piqué, Xabi Alonso, Fàbregas, Xavi, Iniesta, Silva ou Torres voltaram a festejar: uma geração de ouro, que dominou a Europa e o Mundo, que se tornou a primeira a vencer dois Europeus consecutivos e a segunda campeã do mundo a juntar o título europeu, depois da França, em 2000. O tiki-taka, filosofia futebolística que dá privilégio à posse de bola e aos passes curtos, voltou a impor-se nos relvados europeus.