Organização conjunta
Com a organização conjunta de austríacos e helvéticos de tal maneira oleada, parecia que o campeonato se realizava num país só. As autoridades dos dois países, mas principalmente as da Suíça, tiveram fechar os olhos a alguns excessos dos adeptos, como o barulho para além das horas habituais, ajudando assim ao bom espírito que se viveu durante toda a competição.
Dezasseis seleções viajaram para o centro da Europa para disputarem 31 jogos em oito estádios de outras tantas cidades da Áustria e da Suíça. O pontapé de saída seria em Basileia, e a consagração ficava marcada para 22 dias depois no Ernst Happel, na cidade do «Danúbio Azul»...
A grande ausente da competição foi a Inglaterra, que numa luta a quatro com Israel, Rússia e Croácia, viu as duas últimas seleções garantirem as vagas da qualificação. Ucrânia, Dinamarca, Bulgária e Irlanda, foram outras das ausências mais marcantes. Por outro lado, a Polónia, juntamente com a organizadora Áustria, eram as estreantes em 2008, enquanto 12 equipas repetiam a presença de 2004.
Quarenta e quatro anos depois...
Quarenta e quatro anos depois, a
Espanha voltou a erguer a Taça Henri Delaunay. Foi em Viena, que um golo de Fernando Torres ajudou a
Espanha a bater os alemães, e a sagrar a seleção nacional espanhola como rainha do futebol europeu, iniciando uma era que teria a consagração máxima com a conquista do Mundial da África do Sul em 2010.
Durante décadas o futebol espanhol sempre prometera grandes resultados, mas na «hora H», nuestros hermanos sempre cediam. Entre Campeonatos da Europa e do Mundo os espanhóis haviam chegado nas últimas edições aos Quartos-de-final em 1994, 1996, 2000 e 2002; tinham ficado pelos oitavos em 2006 e sido logo eliminados na primeira fase em 1998 e 2004, curiosamente, nos torneios realizados nos seus dois vizinhos...
Em 2008, os espanhóis chegavam com uma esperança renovada, assente numa longa sequência de jogos sem conhecer o sabor da derrota, e em jogadores geniais como Iniesta, Xavi, Fàbregas, Torres, Silva ou Villa, que juntamente com a raça de Puyol, Alonso e Ramos, ou a experiência e classe tanto do naturalizado Marcos Senna, ou do guarda-redes Iker Casillas, levavam a
Espanha de Luis Aragonés a acreditar que tinha chegado o grande momento.
A goleada sobre a Rússia na estreia (4x1) e as vitórias por duas bolas a uma com a Grécia e a Suécia, deixavam o aviso de que a
Espanha vinha para ganhar. Araganonés estava confiante, contudo ainda faltava superar o trauma dos quartos-de-final.
Uma laranja sumarenta
Uma grande Holanda começou a fase inicial do euro em grande estilo, esmagando Itália e França.
Mas o primeiro grande candidato da prova, com um futebol que encantou os adeptos e conquistou a imprensa mundial, foi a «
Laranja Mecânica» de van Basten. Colocada num grupo com o Campeão e o Vice-Campeão Mundial, além da Roménia, a Holanda tinha uma missão complicada, mas van Persie, Sneijder, Robben e companhia, chegaram decididos a conquistar a Europa e a deslumbrar o mundo.
Tudo começou com um claro 3x0 sobre a Itália, que deixou os campeões mundiais em estado de choque. Seguiu-se uma goleada sobre a França por 4x1, com uma exibição soberba, que deixava italianos e franceses a discutirem entre si - mais a Roménia - a qualificação para os quartos-de-final nos jogos da última jornada.
No dia das decisões, a Itália voltaria a levar a melhor sobre a França (2x0), aproveitando a vitória holandesa sobre a Roménia para garantir a presença nos quartos, onde lhe aguardava a
Espanha, num dos embates mais esperados da prova.
Santos da casa não fazem milagres
A Áustria e a Suíça chegaram ao Euro com ambições limitadas, mas distintas. Os austríacos, afastados dos grandes palcos há dez anos, recebiam a competição sem uma grande equipa, sem nenhuma estrela de renome no panorama europeu.
O grupo com Alemanha, Polónia e Croácia, também não ajudava. Mas a participação dos austríacos acabou por ser honrada, terminando em terceiro lugar no grupo com um ponto, graças às derrotas tangenciais (0x1) com Alemanha e Croácia, e o empate com a Polónia (1x1).
Já os suíços, presentes no Euro 2004 e no Mundial de 2006, onde acabaram eliminados sem derrotas e sem sofrer um golo, contavam com uma equipa onde se destacava a nova geração do futebol helvético com jogadores como Streller, Frei, Senderos ou Barnetta. A derrota com a Rep. Checa na estreia, marcou a prova da equipa que acabou por ser surpreendida pela Turquia (1x2), depois de ter estado a vencer.
Cristiano Ronaldo marca mais um golo de Portugal contra a Rep. Checa, carimbando a qualificação lusitana para os quartos-de-final.
Eliminada, no último jogo defrontou um
Portugal já qualificado e que fazia jogar as segundas figuras. A vitória por 2x0, com dois golos de Yakin, limpou a imagem e garantiu a fuga ao último lugar, enquanto
Portugal mantinha a liderança do grupo, o que lhe valeu defrontar a Alemanha (segunda classificada, atrás da Croácia) nos quartos-de-final.
Alemanha e Turquia seguem em frente
Alemanha e Holanda a norte, Rússia a leste, eram as forças de bloqueio do domínio que o sul da Europa voltava a lançar na fase decisiva dos quartos-de-final com as presenças de Itália,
Espanha,
Portugal, Turquia e Croácia.
O primeiro confronto foi entre
Portugal e a Alemanha, com os germânicos a demonstrarem a força do seu renovado futebol, vencendo por 3x2 uma equipa portuguesa que nunca se recuperou do anúncio da saída do treinador Luís Filipe Scolari, logo a seguir à vitória no segundo jogo.
No dia seguinte, croatas e turcos encontraram-se em Viena, num dos jogos mais dramáticos do torneio, num dia de calor tórrido que foi derretendo durante a tarde os adeptos que esperavam a hora do jogo pelas ruas da cidade...
O calor do dia contagiou os jogadores, com as temperaturas a chegarem a atingir valores surreais no termómetro da emoção durante o prolongamento. Após uma bela exibição, Rüstü, o guarda-redes turco, comete um erro de amador e a Croácia toma a liderança com um golo de Modric, no último minuto do tempo extra.
Na resposta, no último remate da partida a segundos do fim, Semih marca o 1x1 e colocou os turcos em delírio absoluto... Tudo ia ser decidido nos penáltis. Aí, Rüstü, redimiu-se e defendeu tudo o que podia, tendo sido batido apenas por Srna, garantindo assim uma histórica primeira presença da Turquia nas meias.
Arriverdeci Italia! Dag Nederland!*
Depois de dois jogos intensos, seguiu-se um jogo absolutamente apaixonante entre a Holanda e a Rússia, com os holandeses a serem surpreendidos pelo seu compatriota Guus Hiddink, que magistralmente armou a grande armada russa na perfeição para o grande jogo. Com um Arshavin superlativo, a Rússia bateu a Holanda por 3x1 após o prolongamento, provocando a grande sensação da prova e deixando fora a toda favorita esquadra de Marco van Basten.
Meias-finais - Turquia 2x3 Alemanha: um dos mais emocionantes jogos da competição.
Um dia depois, foi a vez da
Espanha e da Itália medirem forças. O «
Tiki-taka» dos espanhóis contra o taticismo dos campeões mundiais, gerou um jogo de paciência que acabaria resolvido da marca de onze metros.
Di Natale falhou no momento decisivo e a
Espanha quebrava a velha malapata dos quartos-de-final, vencendo pela primeira vez na história um jogo desta fase adiantada da prova.
Meias finais
Depois de tanta emoção e incerteza, Basileia recebeu mais um brinde dos deuses de futebol, com um frenético Turquia x Alemanha.
Boral adiantou os turcos aos 22´, Schweinsteiger empatou passado quatro minutos. Já na segunda parte Klose marcou o 1x2 aos 79 minutos, Semih volta a empatar a partida aos 86, mas a Alemanha ainda tinha guardado uma última carta na manga, e com o golo de Lahm em cima dos 90, acabou com o sonho turco...
Um dia mais tarde a
Espanha passeou toda a sua classe, voltando a vencer a Rússia por 3x0 com golos de Xavi, Güiza e Silva.
24 anos depois a
Espanha voltava a final do Euro para disputar a sua terceira e final e tentar conquistar a sua segunda taça. Do outro lado a Alemanha, herdeira da RFA, que chegava à sua sexta final, 12 anos depois da sua última vitória, em
Londres, sobre a República Checa.
A Roja celebra a conquista da sua segunda Taça Henri Delaunay.
O jogo, ao contrário da prova, não foi um grande espetáculo. O golo de «
el Niño» Torres aos 33 minutos bastou para a
Espanha vencer um jogo que a Alemanha verdadeiramente nunca ameaçou vencer.
Depois da vitória em Viena, seguir-se-ia a vitória em Joanesburgo, depois da Europa o Mundo, a
Espanha tornava-se incontestavelmente a melhor equipa do planeta, com o seu jogo vistoso, o famoso
tiki-taka, à imagem do
Barcelona, foi possível mudar uma velha certeza do futebol e fazer uma nova adaptação de um adágio conhecido por todos: «Um jogo de futebol são onze para cada lado, e no final ganha sempre a
Espanha.» como os alemães tão bem puderam confirmar....